Já conhecia a Cris desde o início de seu trabalho e era esse o tipo de acompanhamento que eu queria, pois era esse tipo de parto que eu queria, o mais humanizado possível. Eu já tinha escolhido ela como doula antes mesmo de ela saber quem eu era… rsrsrs e muito antes de eu engravidar, mais de um ano antes. Engravidei em setembro de 2011 meio que no susto, durante a recuperação de um acidente de moto que eu e meu marido tínhamos sofrido, então para duas pessoas que quase perderam a vida, nos salvamos sem sequelas muito graves e ainda fomos agraciados com mais uma vida para cuidar. Agora, mais do que antes eu precisava de auxílio, pois eu já não tinha o mesmo joelho bom, muito menos meu marido que ainda estava de muletas. Mas apesar de uns contratempos no final deu certo, a Cris seria minha doula e poderia me dar apoio na hora do parto.

 

            Era 17/06/12 e eu completei 41 semanas de gestação. Já estava muito ansiosa e muito inchada,  na semana anterior, em alguns momentos, chorava por não saber se deveria esperar tanto, mas eu estava muito bem assistida, a Antônia mexia bem e me dava muitos sinais de estar gostando de ficar mais tempo no seu “casulinho”, e isso me dava um pouco de tranquilidade e forças para esperar mais. Neste dia, um domingo, era comemoração do aniversário de 11 anos de minha sobrinha (que completaria 11 anos no dia seguinte, segunda-feira). Acordei me sentindo gigante e cansada, sentia muitas contrações de Braxton. Fomos à casa da minha irmã mais velha nesta tarde, mas antes de sair de casa pedi para meu marido tirar fotos de mim e comigo, pois poderia ser a última foto com o barrigão. Fiquei no aniversário de minha sobrinha por umas 2 horas e pedi pra ir embora (foi a primeira vez que eu pedi pra ir embora antes que meu marido pedisse… rs), me sentia muito cansada, muito pesada e as contrações não paravam e isso só me cansava mais.

Eu teria exame de ultrassom e cardiotocografia na manhã seguinte e fui deitar cedo, mas nesta noite tive muita dificuldade para conseguir dormir pois não conseguia achar uma posição confortável, várias noites passei por isso, mas esta era diferente, realmente não conseguia me ajeitar… no inicio da madrugada ainda postei no no grupo de mães do Facebook que não estava aguentando mais e a Cris (minha doula) ainda disse que era normal, que a Antônia estava a caminho, que fazia parte, era meu corpo se preparando e que quanto mais contrações assim eu tivesse, mais rápido seria o trabalho de parto depois…  e não é que ela tinha razão?!

Consegui dormir e no bem bom do sono, quase 5 horas da manhã, eu acordo com uma contração dolorida mas ainda fraca, só despertei, mas já dormi de novo. Vinte minutos ou meia hora depois, senti de novo, daí eu pensei: “Opa!”, relaxei e continuei tentando dormir. Vinte minutos depois: “Opa!” de novo, e mais quinze minutos depois de novo. Resolvi levantar pois eu já tinha certeza que estava em trabalho de parto, olhei o relógio e eram 5:50 da manhã, resolvi que não iria acordar a Cris aquela hora, muito menos meu marido. Fui tomar um banho pra relaxar, fiquei lá por uma meia hora mais ou menos, saí, me vesti e fui tomar café da manhã, comi 2 pães e tomei um copão de nescau pois eu não sabia que horas iria comer de novo. Logo depois das 7hs meu marido acordou e eu bem tranquila perguntei se ele tinha dormido bem, se tinha conseguido descansar e ele me disse que sim, então eu lhe disse que isso era bom, pois tinha uma mocinha querendo conhecer o papai. Lembro da expressão dele, uma mistura de ansiedade com felicidade e tentando não deixar eu perceber que ele estava nervoso (mas eu percebia e achava bonitinho ele tentando disfarçar pra me deixar tranquila). Nisso ele foi tomar banho pra ficar pronto pra sair e eu pra lá e pra cá arrumando as coisas. Mandei um SMS pra Cris que me respondeu na hora e eu pensei: “Credo que rápido, ela não dorme?!”. Ela me orientou a ir no exame caso eu conseguisse, mas com as duas contrações que vieram em seguida decidi que não dava pra ir, então mandei SMS para Dra. Roxana e também para Carol, a fotógrafa que iria acompanhar o parto.

Meu marido falava comigo e as vezes eu não respondia e ele ficava me chamando, até que eu explodi e falei em tom de briga: “ Tô no meio de uma contração poxa, não dá pra falar!”. A partir daí ele ficou mais ansioso pra ir pra maternidade, pois as contrações estavam mais próximas e como ele mesmo disse: “Se tu não consegue terminar uma frase, é porque está na hora de ir pra maternidade”. Liguei pra Cris pra avisar que eu ia pra lá, ela me pediu pra ligar pra ela quando eu chegasse na maternidade e fosse examinada pra dar notícias.

No caminho foi um “Deus nos acuda!”, praticamente desde a minha casa até a maternidade a estrada é ruim, muitos buracos no asfalto e calçamentos tortos. Coitado dos maridos, realmente deveriam ganhar o prêmio paciência do ano. No caminho eu só dizia: “Pára, pára, pára… passou, vai anda logo!”, “Pára, pára, pára… passou, vai anda logo!”, e assim foi até a maternidade. Chegando lá a médica de plantão estava em uma cesárea e eu fiquei ali, em pé na recepção com a moça dizendo pra eu esperar. Nessa hora bateu uma insegurança danada. Meu marido pediu pra ligarem pra Dra Roxana, que passou instruções para eles. Veio então uma enfermeira pra ouvir o batimento da Antônia mas ela não conseguia achar o lugar certo, e o medo foi batendo: “Será que ela que não está achando ou será que tem algo errado?”, ela saiu e voltou com outra enfermeira que também não estava conseguindo escutar o coraçãozinho do bebê e eu tentando relaxar, mas confesso que estava muito, muito insegura nesta hora… nisso entrou a Dra. Juliany (que era a plantonista) e me levantou da maca, ouviu o batimento da minha bebê e me tranquilizou, fez exame de toque e viu que eu estava com 4 dedos de dilatação e disse que não ia me fazer voltar a andar pela buraqueira da cidade. Eu poderia ficar se quisesse, e foi o que eu fiz. Nisso a Cris já estava a caminho da maternidade também.

 

            Esperei alguns minutos na sala do atendimento e fui encaminhada para a sala de parto. Já pedi pra encherem a banheira assim que cheguei. Meu marido sempre cuidando de mim. Entrei na banheira e deu uma aliviada na dor das contrações. Logo a Cris chegou e quando eu a vi na porta foi um alívio. Muita massagem, muita conversa e muitas contrações… ufa. Logo trouxeram almoço pra mim. E eu perdida no tempo, parecia que fazia 30 minutos que tudo aquilo tinha começado e já era quase meio dia. Saí da banheira e tentei comer, mas não conseguia, as contrações estavam com intervalos curtos, me sentia fraca, com fome, enjoada, tudo ao mesmo tempo. Eu não conseguia sentar, nem na bola, que eu tanto amava e achava que ia usar muito no tp. Voltei pra banheira, único lugar e posição que me dava alívio. Me sentindo fraca ganhei gelatina na boca. Dra. Roxana chegou e fez novo toque, eu já estava com mais  de 7 cm de dilatação. Banheira de novo.

            A Carol chegou de mansinho, sem dar um pio, eu via ela mas não via ao mesmo tempo, parecia que eu estava bêbada. Não vi ela tirando uma foto, mas ela tirou muitas e lindas!!

 

            Percebi que nas contrações eu não conseguia relaxar, eu me contraía e isso foi me deixando apreensiva. Logo eu tentei ficar de joelhos na banheira e era a melhor posição que eu consegui para receber a Antônia, mas meu joelho acidentado não ajudou e eu tinha que trocar de posição a cada contração. Meu marido sempre ao meu lado me dando apoio e me ajudando, mas essa troca de posição a cada 3 minutos foi me cansando… e o fato de não conseguir deixar de retrair me deixou preocupada. Pedi analgesia para tentar não retrair tanto, pedi algo só pra aliviar um pouquinho. Fui para o centro cirúrgico e ganhei a analgesia que não era bem o que eu esperava, fiquei amortecida e não sentia as contrações que agora também diminuíram. Ganhei ocitocina para ajudar a regular as contrações novamente e a Cris e a Dra Roxana me ajudavam a identificar as contrações e me diziam quando fazer força. Numa das vezes que fiz força a bolsa estourou, sempre acompanhando os batimentos cardíacos do bebê, perceberam que eles estavam baixando. Logo, a Dra Roxana muito calma, me disse que estava tudo bem, mas que os batimentos cardíacos da Antônia estavam muito baixos, ela nasceria dentro de 30 ou 40 minutos no máximo, mas não podíamos arriscar com os batimentos assim, tão baixos como estavam. E partimos para uma cesariana de urgência.

             Percebi que meu marido estava muito nervoso, ainda mais quando pediram para ele sair um pouquinho para arrumarem a sala. Eu só pensava: “Tenho que ficar calma, quanto mais calma eu ficar, melhor para o bebê, melhor pra mim, melhor pra todo mundo!”. E assim eu fiquei, muito, muito zen, eu estava em outro mundo, não parecia que algo ruim pudesse acontecer, e eu nem cogitei essa possibilidade em nenhum momento. Logo meu marido estava lá comigo de novo. Olhei para o lado e a Carol também estava. A sala estava cheia, era anestesista, auxiliares, enfermeiras, a Dra Juliany estava lá ajudando também, e mesmo com tudo isso eu me sentia segura, pois eu sabia que quem estava no comando era uma pessoa muito responsável e com experiência. O fato de ter a Dra Roxana me atendendo, a Cris como uma auxiliar (porque realmente neste dia foi) e meu marido  ao meu lado, me deixou em paz.

 

            Em poucos minutos levantaram minha cabeça e abaixaram o campo cirúrgico (aquele pano que fica na sua frente) para eu ver minha boneca nascer. Nunca esquecerei essa cena, eram 14:23h. Antônia saiu de dentro de mim com os olhos bem abertos e deitou no braço da Dra Roxana que massageou suas costas. Ela deu quase como um espirro onde saiu líquido amniótico com mecônio e começou a respirar e chorar. E eu pensava: “Nossa que cabeluda! E que cabelo escuro! É minha mesmo?!” (é claro que estava mais escuro ainda, pois estava molhado né?!). Dra Juliany cortou o cordão umbilical e levaram ela para examinar, e como eu pedi, meu marido não desgrudou um segundo dela. Logo trouxeram ela para eu ver, ainda sujinha e enroladinha nos tecidos da maternidade. Ela foi pro banho enquanto terminavam a cesárea. Eu comecei a falar muito, conversava com os médicos todos,  principalmente com a Dra Roxana, com a Dra Juliany e com a Cris, falávamos de assuntos diversos, nem parecia que eu estava “aberta”… rsrsrs Isso foi bom porque me distraiu. Dra Roxana até fez o mapa astral dela e disse que ela ia ser muito falante e eu rebati: “É que o pai e a mãe dela falam pouco também, nem vai ter quem puxar”. Logo meu marido estava de volta com ela já arrumadinha, embrulhadinha no cobertorzinho ela e com os olhos beeeemmmm abertos e prestando atenção em tudo, principalmente no pai dela e no que ele conversava com ela. Ela nasceu com 48,5cm, 3250 gramas e recebeu Apgar 9/9.

 

            Fomos para a sala de recuperação e lá Antônia já mamou. Mas e quem disse que ela queria dormir? Ela estava muito curiosa com a vida aqui fora. Cris e Carol então se despediram de nós. No final da tarde fomos para o quarto onde minhas irmãs e minha mãe esperavam ansiosamente desde o início da tarde. Naquela noite ainda recebemos a visita de 3 amigas de faculdade muito especiais para mim, e de dois dos meus sobrinhos. Só aí é que ela dormiu.

             No dia seguinte recebi a visita da Dra Roxana que vei ver como eu estava, e do resto dos sobrinhos, meu irmão e minha cunhada, e meu pai, todos ansiosos para conhecer a nova integrante da família.

Tenho muito a agradecer pelo carinho que recebi da Cris Doula e da Dra Roxana. Realmente, nessa hora ter alguém que você confia ao seu lado faz muita diferença.


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