Hoje uma gestante que acompanho comentou que estava preocupada com uma coisa: ”Quais as chances de no dia você não me acompanhar no parto?”
Falei para ela que era ótimo que ela me perguntasse isso. Expliquei para ela, mas acho uma boa oportunidade de esclarecer esse medo para quem procura doula ou já está sendo acompanhada por uma.
Doulas são seres humanos. Doulas adoecem, ficam cansadas após partos longos, tem vida pessoal, filhos e tiram férias. Isso serve para Obstetras, Parteiras e Fotógrafos (de parto). Oferecemos uma assistência, um serviço que não tem data nem hora marcada para ser realizado, não um produto. Pensando assim fica mais fácil de entender que imprevistos podem acontecer.
Neste mês de março completo 6 anos como doula e no início não sabia como era importante deixar essas questões (que parecem óbvias) bem claras. Por isso há uns 4 anos uso contrato, uma via com o casal, uma via comigo, e nele tem tudo que acho fundamental. Inclusive essa questão. Acho o contrato fundamental pois fica escrito, para que a doula tenha certeza que o casal entendeu essas questões.
Nesses 6 anos acompanhei 380 partos e destes somente três partos acionei doulas para me substituírem (dois pois eu estava viajando e um por parto simultâneo em hospitais diferentes). E em apenas um eu não pude ir pois a gestante teve uma cesárea de emergência (prematuro) e eu não chegaria a tempo da cesárea pois estava longe do hospital. Sendo assim quatro partos que não acompanhei cerca de 1%.
Já fui também acompanhar parto com febre para não ter que ”deixar a gestante na mão” ou enviar outra doula. Portanto imprevistos são raros mas podem acontecer. Nesses anos todos já fiquei doente algumas vezes também, mas por sorte nada grave ou não tive partos nesses períodos, senão esses números seriam maiores. E a gente não escolhe adoecer né? Todas as doulas estão sujeitas a isso, assim como obstetras, etc.
No fundo eu, de máscara, com uma forte gripe. Senti que conseguia acompanhar o parto, a gestante preferia que eu fosse ao invés de outra doula, e deu tudo certo.
Mas nem todos os casos será possível que a doula acompanhe. Esse foi um parto relativamente rápido. Partos longos e exaustivos para alguém doente, não será benéfico para a parturiente.
Atendo 6-7 partos por mês, dependendo do mês (e dos meus planos pessoais como férias) atendo menos. Então eu não acompanho mais do que o meu limite mensal, assim, nego algumas gestantes para não comprometer os acompanhamentos. Esse controle é necessário para fazer um acompanhamento visando qualidade e não quantidade.
E se no dia tiver algum imprevisto vou fazer todo o possível para acionar outra doula que eu goste do trabalho e confie. Conheço algumas que posso contar. Mas no contrato deixo claro que pode acontecer de não conseguir mandar ninguém no meu lugar, ou se o casal não quiser outra doula (o que é uma escolha possível!), o valor referente ao parto é devolvido. É engraçado que eu volta e meia tenho pesadelos de que quebrei a perna, fiz cirurgia, e nesses sonhos eu penso: E se eu tiver parto? rsrsrs
Nenhuma doula quer ”faltar” um parto, acredite.
Então, é impossível que qualquer profissional que trabalhe com partos, que são sempre imprevisíveis, garanta que estará presente no parto, que não tem dia e nem hora marcada. IMPOSSÍVEL! Se você ainda não teve essa conversa com o seu cuidador (Obstetra, Parteira ou Doula) tenha antes do seu parto. Não tenha medo de conversar sobre essas questões, assim, você evita desentendimentos.
Segue um outro post que fiz em 2013 sobre esse assunto.
“A assistência humanizada é uma assistência sustentada por três pilares: protagonismo da mulher, assistência pautada em evidências científicas e responsabilidades e decisões compartilhadas entre a mulher ou casal e o médico”.
Cris Doula
