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ENTREGA E PRESENÇA

O que faz nossa vida valer a pena? Qual é o segredo da felicidade?

Não estou aqui para exaltar as alegrias da maternidade ou compará-las com outros prazeres da vida. Afinal, meu filho tem apenas 13 dias e eu acredito outros aspectos da vida – como nossos relacionamentos, autodesenvolvimento e trabalho – podem nos preencher de significado. Este relato é sobre o parto do Max.

Às 6 horas da manhã do dia em que completava 38 semanas de gestação, despertei com a sensação de estar fazendo xixi na cama. Corri para o banheiro e, ainda sonolenta e no escuro, tentei entender o que estava acontecendo. Quando percebi que era a minha bolsa que havia rompido, um turbilhão de sensações passou pelo meu corpo: a alegria de saber que o Max estava chegando, a lógica dos compromissos do dia que eu precisaria desmarcar, o medo de ser mãe e uma emoção forte, acompanhada de lágrimas tranquilas mas insistentes.

Às 6h30, acordei o meu marido Eric com a notícia de que nosso filho nasceria naquele dia. Depois disso, ligamos para nossa doula Cris, tomamos café da manhã na padaria, avisamos os familiares e amigos mais próximos, fomos à maternidade para sermos examinados pelo Dr. Fernando, passamos no supermercado e voltamos para casa.

Como eu ainda não tinha contrações, a recomendação da Cris foi: “tome um chá forte de canela, mantenha-se ativa e chame esse guri!”.Afinal, se o parto não evoluísse naturalmente, precisaríamos induzir. Segui as instruções à risca. Fiquei me mexendo na bola de pilates um tempão e devo ter tomado mais de um litro de chá.

Lá pelas 11h, começaram as contrações. Às 13h, voltamos à maternidade, que estava lotadíssima – dizem que a culpa é da maior lua cheia do ano. Eric e eu ficamos caminhando no pátio e eu já estava com contrações mais fortes, de 4 em 4 minutos. Ao redor das 15h30, fomos para o quarto. Aí as dores começaram a apertar.

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Neste momento, troquei minha roupa por um hobby da maternidade e me esquentei com vários cobertores. Dr. Fernando me examinou e eu já estava com 7cm de dilatação. Que notícia maravilhosa! Senti uma energia extra para continuar.

A calma, companheirismo e carinho do meu marido neste período foram fundamentais. Nunca vou esquecer das palavras dele no intervalo entre duas contrações, quando, sentada na bola de pilates, deitei a cabeça no ombro dele.

Logo, logo a Cris chegou para ficar. Ela já tinha me visto, mas estava acompanhando outro parto na mesma maternidade até aquele momento.

Enquanto isso, longe do meu campo de percepção, Dr. Fernando tentava me levar para a sala de parto. Nosso plano original era que o Max nasceria na banheira. Só que não havia quartos disponíveis para transferir a parturiente que tinha dado à luz na sala de parto.

No nosso quarto, perguntei à Cris: “o que você acha de eu ir para o chuveiro?” Ela respondeu: “você está com vontade de ir para o chuveiro? Então siga seu corpo.”

Fui para o chuveiro e a água quentinha ajudou a aliviar a dor. O dia estava entardecendo e a Cris colocou velinhas no banheiro, mantendo o ambiente mais escuro. Num certo momento, ela entrou no box comigo e permaneceu o tempo todo me observando, oferecendo palavras de apoio e dando dicas para facilitar o parto. No final, eu estava de pé e agachava, segurando na Cris, quando vinham as contrações. Devo tê-la apertado bastante em alguns momentos! 

Luvas por precaução

Luvas por precaução

Foi aí que veio a segunda notícia maravilhosa. “Estou vendo a cabecinha do Max”, disse a Cris. Foram apenas mais algumas contrações até eu ter o meu filho no colo pela primeira vez, abraçá-lo, cheirá-lo e sentir um prazer incompatível com a dor de momentos antes.

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Eric tirou fotos, se emocionou e cortou o cordão umbilical depois que ele parou de pulsar. Acho que até ele se surpreendeu com a serenidade e força com que ele levou todo o processo.

Dr. Fernando confessou que ainda não tinha feito parto no chuveiro naquela maternidade. Se tinha ou não tinha, eu não tinha como saber. O que senti foi que todos me passaram muita segurançaem todos os momentos.

Passado o parto, muitas pessoas me perguntaram: “como você não ficou nervosa ao saber que a maternidade estava lotada?” ou “você não ficou decepcionada ao saber que o plano de nascer na banheira não ia acontecer?”.

Há alguns anos, conheci o conceito de “flow”, disseminado pelo psicólogo húngaro MihályCsikszentmihalyi. Segundo ele, “flow” é o estado mental de pleno envolvimento na realização de uma tarefa, quando perdemos a noção do tempo, canalizamos emoções positivas e estamos completamente focados no que estamos fazendo. São essas experiências que nos dão a sensação de que a vida vale a pena, de que somos felizes.

Para mim, a “tarefa” em questão era trazer o Max a este mundo do jeito mais natural, mais humano e mais saudável possível. Todo o resto eram detalhes. Nunca mais esquecerei este estado de entrega e presença absolutas, traduzidos hoje em memórias de felicidade.

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Gostaria de demonstrar toda minha gratidão a três pessoas fundamentais: ao Eric, a quem amo mais hoje que há duas semanas, pela força e carinho; à Cris, pela intimidade, atenção canalizada e por ser a primeira a segurar o Max; e ao Dr. Fernando, pelo trabalho de bastidores, confiança e liberdade. Vocês são sensacionais!


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