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Seis anos de casados com direito a brigas, viagens, amor, cumplicidade, amizade, desentendimentos, companheirismo, sinceridade, alegrias e tristezas… Parentes e amigos perguntando por um herdeiro e muitos pedidos da sobrinha Susu, que tanto queria um(a) priminho(a).

Então, planejamos e desejamos um filho! Ele foi gerado quando tivemos a certeza que a hora havia chegado, queríamos ser pais! Três meses após o “sinal verde”, com um exame de sangue feito no PA, veio o resultado: POSITIVO! Que misto de sentimentos! Que emoção! Que medo! Que alegria! Quanta responsabilidade!!! O papai nem desconfiava…

Fiz uma surpresa para contar a novidade, ele não acreditava, perguntou várias vezes se era verdade, se emocionou e vibrou com a notícia: iria ser pai! A partir dali nossas vidas começaram a mudar, tudo era pensado e realizado em prol desse serzinho que se desenvolvia em meu ventre e já era tão amado. Alimentação saudável, caminhadas diárias, hidrogestante, drenagem linfática, quarto, móveis, livros, mimos, ensaios fotográficos, roupas, enxoval, carrinho, bebê conforto (nossas prioridades já estavam mudando), parto!!! Como seria o parto?!

Ouvimos relatos de uma amiga que teve seu parto normal e o acompanhamento de uma doula, até então nunca tínhamos ouvido falar dessa profissional. Essa amiga falava de uma forma especial, seus olhos brilhavam quando o assunto era parto, doula e afins. Defendia com todo seu conhecimento como a via de parto faria diferença para o binômio mãe e bebê (Obrigada, Gil!).

Fomos em busca de informações, pesquisamos muuuuuitoo, conversamos sobre as nossas vontades e desejos em relação ao parto, assistimos vídeos, filmes e tudo que se possa imaginar relacionado a parto e a saúde da mãe e do bebê. Precisávamos de embasamento para nos sentir seguros de que nossa escolha seria a melhor para o nosso bebê.

Desmistificamos que cordão enlaçado no pescoço, mecônio, e tantos outros blá blá blá são razões para uma cesárea eletiva. Entendemos que não é necessário banho nas primeiras 24h de vida do bebê, que aquela “sujeira branca” (vernix) protege o bebê. Compramos livros, pesquisamos, estudamos o assunto! Aprendemos que a episiotomia não é fundamental, se for ter laceração/corte, que seja natural. A analgesia?! Um mal necessário quando a mãe realmente não está suportando a dor, pois pode trazer malefícios para o bebê. Ocitocina sintética para acelerar o parto?! Só no caso de uma indução necessária, pois ela faria as contrações ficarem mais doloridas. O médico romper a bolsa? Para quê? O bebê pode nascer com bolsa íntegra, empelicado.

Sabíamos que era importante que o corte do cordão umbilical só fosse feito após o mesmo parar de pulsar. Decidimos! Queremos um parto normal, o mais natural possível! Instrui meu esposo que durante o trabalho de parto, no auge da dor, eu poderia pedir por analgesia e até mesmo por uma cesárea. Super normal acontecer, mas que ele me desse força pra eu aguentar mais um pouco. (Normalmente quando a mulher pede por analgesia significa que está muuuito perto do bebê nascer. É só suportar mais um pouquinho). Estávamos prontos!!!

Muitos amigos e familiares achavam nossa decisão absurda. Muitos não apoiaram, achavam uma loucura. Viajar para parir?! E se não der tempo chegar a maternidade?! Parto humanizado?! Que “bicho” é esse?! Perguntavam. Mas seguimos em frente! Fomos em busca de um médico que fosse a favor do parto vaginal ou que pelo menos respeitasse as nossas vontades. Começou a nossa peregrinação! Fomos em 5 médicos até escolhermos um. Escolhemos o que disse que era ótimo eu querer um parto normal! Sim, ele disse isso na primeira consulta, provavelmente achando que mudaríamos de ideia quando se aproximasse o dia do bebê nascer, pois em todas as consultas ele perguntava: e aí? Já mudou de ideia? A resposta era sempre a mesma: não! E seguimos firme nesse propósito.

Não queria parir num centro cirúrgico, com aquelas “roupitchas” que te deixam de bumbum de fora, obrigada a deitar numa maca numa posição desfavorável, contra a gravidade. Não queria! Queria um ambiente tranquilizador, onde eu pudesse transitar à vontade, tomar banho, rebolar numa bola de pilates, ir para a banheira, dançar, ter pessoas que amo por perto! Enfim, que eu pudesse fazer o que meu corpo pedisse. Pela internet encontrei o hospital e maternidade ILHA em Florianópolis, conhecido pelo atendimento humanizado. Parecia loucura, estávamos a 150km de distância daquela maternidade.

Fomos conhecer o hospital e a sala de parto, e decidimos, era para lá que iríamos. Procuramos uma doula no início da gravidez, queríamos essa profissional para nos acompanhar, sanar as nossas dúvidas, nos dar suporte emocional! Entramos em contato com a Cris Melo, mas provavelmente ela estaria em um congresso na nossa DPP e não poderia nos acompanhar. Entramos em contato com outras, mas sentíamos que precisava ser a Cris. Algum tempo depois ela entrou em contato dizendo que estaria disponível. Ebaaaaa!!! Assinamos o contrato! (Ela foi perfeita, muito querida! Nos deu a tranquilidade que precisávamos. Super indico!!!)

Viajamos para Florianópolis três vezes durante a gestação para os encontros pré-parto. Íamos e voltávamos no mesmo dia. Sim, muita disposição! Mas sabíamos que era para o bem do nosso filho, da nossa família. Tive uma gravidez super tranquila, sem enjoos, sem vômitos e sem intercorrências… Um verdadeiro sonho!

Gostaria de registrar esse momento único. Contratamos uma fotógrafa! Com 5 meses eu já sentia as contrações de treinamento, meu bebê estava ensaiando sua chegada. 36 semanas!!! Comecei a perceber que meu tampão estava saindo, foi aos poucos. Perguntei à Doula e ela me orientou que era super normal, que as vezes saia semanas antes do trabalho de parto. E foi assim comigo, cada vez que eu via um pouco do muco, meu coração acelerava, estava cada vez mais perto o dia de conhecer meu bebê!

Também passei a sentir contrações mais fortes. Minha mãe veio nos ajudar quando eu completei 38 semanas e 3 dias, parecia que o netinho estava só esperando por ela. Dois dias depois, com 38 semanas e 5 dias (faltando 2 dias para completar 9 meses), no dia 27 de maio (quarta-feira) às 4:38 da manhã sinto uma vontade “estranha” de fazer xixi, e se não corresse faria na cama mesmo! Dei um pulo e algo me disse: A BOLSA ROMPEU!!

Que sensação maravilhosa! Sorria sozinha sentada no vaso sanitário. Hahaha, Meu bebê estava chegando! Ao olhar para o líquido o vi esverdeado, era mecônio. Não me apavorei. Voltei para a cama caladinha, esposo dormindo, minha mãe também… E eu curtindo sozinha aquele momento, contrações leves iam e vinham, anunciavam que o momento mais esperado havia chegado. Enviei um “Whats app” para a Doula, ela me orientou a ir para Floripa e fazer uma avaliação no hospital.

Quando o dia amanheceu, às 7h acordei meu esposo e minha mãe com a notícia, ficaram atônitos. Graças a Deus eu já havia deixado tudo organizado, tudo que precisava levar estava separado, certamente eles não dariam conta de lembrar de tudo no auge daquela notícia. Fizemos uma oração e pegamos a estrada. Sim, a estrada! Precisávamos percorrer um caminho de quase 2 horas até o hospital.

Sai de casa sorrindo, com contrações leves, no caminho já não conversava tanto, as contrações estavam aumentando. Na entrada de Florianópolis havia muito trânsito, tudo parado, marido pegou o acostamento com tudooo, parecia o Airton Senna!! (Hahaha) Já pensou?! Poderia nascer no carro mesmo, mas o Senhor sabia de todas as coisas e estava conduzindo cada detalhe daquele dia.

Chegamos ao ILHA às 9h30, demos entrada, a atendente disse que o hospital estava lotado e eu seria a última, não havia mais vaga. Ufa! Chegamos a tempo! Fiz a avaliação e estava com 5cm de dilatação e pouquíssimo líquido esverdeado (mecônio), a frequência cardíaca do bebê estava ótima.

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Fomos para a sala de parto (eu, meu esposo e minha mãe). Minha Doula linda e querida chegou, eu estava tranquila. Me mantive ativa, rebolei na bola de pilates, tomei um chazinho esperto feito pela doula (para ritmar as contrações), coloquei a roupinha que eu quis, comi brownie vindo diretamente de Fortaleza. Que deliciaaaa!!! Tirei fotos, minha mãe estava mantendo o grupo da família no whats app informado. Todos torcendo e orando por nós. A partir dali minha concentração estava toda voltada para o parto, fechei meus olhos e escutava meu corpo. Fui para a ducha, aquela água quente era confortável, perdi a noção de tempo, só queria conhecer meu bebê.

Minha fotógrafa havia chegado! Tudo conforme eu planejara. Precisava ficar ativa! Fiz agachamentos, rebolei, me movimentei muito. Meu esposo ficou do meu lado todo o tempo, foi um super parceiro. Já estava com 7 cm de dilatação! Quase lá!!!

Estava focada, não ouvia mais nada, só pensava que ele estava quase chegando! Vocalizava no banheiro sempre que as contrações vinham, agachava, sentia vontade de fazer força. A natureza é perfeita! Meu corpo dizia o que fazer. Fui para a banheira com meu esposo me dando apoio, a Doula me incentivando e dizendo pra ouvir meu corpo. Sentia muita sede, muito calor! Pedi água. Sim!! Pude tomar água todas as vezes que pedi. Meu esposo colocava pano com água gelada no meu pescoço para amenizar o calor, a Doula me abanava. Minha fotógrafa registrava cada momento. Minha mãe enviava informações no grupo da família, estavam todos online, coladinhos com seus celulares, aguardando a evolução do parto. Mandavam mensagens positivas, dizendo que eu era forte, que eu iria conseguir! Estava amparada!

Consegui relaxar um pouco na banheira, até cochilei entre as contrações! Delirava clamando a Deus por ajuda. Chamava meu bebê: vem Daniel! Dizia que estava tudo pronto, estava esperando pela hora dele. A Doula segurava minha mão! Estava na “partolândia”! A médica veio avaliar a dilatação. 10cm!!! Uhruuuu!!! Frequência cardíaca do bebê normal!

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A doula estava com uma gripe forte e usou máscara durante o trabalho de parto para proteger mãe e bebê.

As contrações se intensificaram, não achava uma posição confortável na banheira. A Cris, minha Doula, fazia massagens que aliviavam as dores. Definitivamente, não conseguia uma boa posição na banheira… Fui para o banco de parto, de cócoras, com meu esposo. Tinha vontade de fazer força quando as contrações vinham. Chegou a hora do expulsivo!

O marido sussurrava no meu ouvido: Vamos lá! Você consegue! A Doula me incentivava: Força, Flor! Ele está chegando! A cabecinha dele está saindo… Quer sentir?! Quanta emoção, o momento mais lindo da minha vida estava chegando, aquele que mudaria a minha vida estava chegando, o divisor de águas na minha vida ESTAVA CHEGANDO!

Me senti EMPODERADA, forte suficiente para trazer meu filho ao mundo da maneira mais respeitosa possível. Não pedi analgesia, não me induziram a cesárea porque havia mecônio no líquido amniótico, não precisou de ocitocina sintética, a médica não fez episiotomia.

Segurava firme a mão do meu esposo e fazia força! Trancava a respiração e fazia força! Respirava fundo e fazia força! Senti o círculo de fogo, meu bebê estava coroado!!! Pai do céu! Como aquilo ardia! Parecia que estava queimando tudo! Eu dizia: está ardendo, está ardendo muito. A Cris respondia: É assim mesmo, Flor. É porque ele está chegando. Deixa ele vir!!! Força, força, força!!! Quando eu fazia força a cabecinha dele aparecia, quando eu parava ela subia. Céus! O que está faltando?! Na descida dele pelo canal vaginal sua cabecinha não estava bem encaixada, estava descendo e nascendo juntinho com o ombro.

Fechei meus olhos e pensei em todas as mulheres próximas (avó, mãe, tias, primas, amigas) que EMPODERADAS e guerreiras, contra todo o sistema cesarista, trouxeram seus filhos ao mundo por parto via vaginal. Eu também conseguiria! Minha mãe gritou: Bora, Flor! Faz força!!! Ele quer nascer!!! Meu filho queria nascer!

A hora dele havia chegado, ele estava pronto para nascer, não foi tirado antes da hora, estava com seu pulmãozinho maduro, já poderia respirar sozinho, os sinais nos diziam isso…

Já era tarde, 16h38, respirei fundo e busquei forças, apertei forte a mão do meu esposo e fiz uma força que nem eu sabia que tinha. Meu filho nasceu!!!

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NASCEUUUUU!!! Nasceu lindamente! Veio direto para meus braços e eu explodi de emoção! Sorri abobalhada, chorei emocionada. Estava vendo pela primeira vez aquele ser que tomou meu coração, que roubaria as minhas noites e me apresentaria a um amor inexplicável e imensurável.

Ali, eu nasci novamente. Nasci mãe! Fui para a maca, pois precisava de alguns pontos, meu períneo havia lacerado naturalmente. A placenta saiu. Era linda! Em forma de coração. A Doula, que já havia acompanhado mais de 300 partos, disse nunca ter visto uma placenta como aquela. Virou quadro! Para nos lembrar como Deus é sábio e criou tudo com perfeição. O cordão umbilical parou de pulsar e meu esposo, o papai, o cortou.

O Daniel continuou em meus braços. Eu o olhava sem acreditar. É meu filho! Saiu de mim! Eu sou mãe! Ele mamou nas primeiras horas de vida. Não saiu de perto de mim um minuto sequer. Não precisou de UTI, não precisou de incubadora. Não foi aspirado. Nasceu saudável e grande! 3,895kg e 52cm! Nosso meninão!!! Desde que a bolsa rompeu até o nascimento foram 12 horas de trabalho de parto. Mas nem percebi! (risos)

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Fui a protagonista do meu parto!!! Me empoderei! Soube parir e meu filho soube nascer.

Daniel com 12 dias de vida.

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Por Flor Maryanna Amorim