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40 semanas, 1 dia na contagem do Dr. Rafael e 42 semanas na contagem da Dra. Eneida. Um domingo bonito! No ultrasom de 39 semanas, registrava que Max estava com aproximados 3kg900gr e 50cm. Não foi pelo tamanho, não foi pela ansiedade, não foi por desconforto ou dores que tomamos essa decisão! Foi, porque algumas semanas antes uma fatalidade havia acontecido com uma conhecida e aquela fatalidade atormentava nossa cabeça! Domingão, daqueles quentes, com céu azulão!

Acordamos as 08h, terminei de arrumar as coisas da maternidade, fomos a floricultura, passeamos, enfim, um domingo normal. Tínhamos combinado com Dr. Rafael que se Max não chegasse naquele domingo, até as 20h, optaríamos pela indução! Antes de tomar essa decisão, conversamos muito com o Dr. Rafael e com a Cris, lemos muito,  levantamos os prós e contras, passamos por todos os “macetes” da indução natural e estava decidido! Dr. Rafael, sempre muito tranquilo, nos explicou como funcionava: 1 comprimido a cada 4 horas, para afinar o colo do útero! Em média geralmente é necessário 4 comprimidos pra iniciar o trabalho de parto.

E lá fomos nós! Domingo, 16 de março de 2014. Saímos de casa as 20h, com o porta malas do carro cheio, mais parecia que íamos passar um feriadão com amigos: roupas, livros, bola de Pilates, e uma caixa de cerveja Gambier, que lotou o pequeno frigobar do Ilha, mas permitiu que cada visita brindasse a chegada do pequeno (não tão pequeno). Chegamos no Ilha às 20h30. Era uma sensação estranha: entrei como se fosse uma consulta, sem dores, sem bolsa rompida, sem materializar a cena que sempre imaginei pro dia do nascimento do Max! Dr. Rafael ia se atrasar, mas já tinha deixado as diretrizes pro plantonista, Dr. Cláudio.

Nos instalamos: cervejinhas no frigobar pro brinde, trevinhos do jardim de casa (tradição da vó Elena) ao lado da cama pra sorte, Vilém Flusser para leitura. Camisola linda e sexy(!) colocada, era hora de iniciarmos: 21h30min, faixas na barriga e um medidor de frequência cardíaca que imprimia rabiscos que nada mais eram do que a tradução dos batimentos do Max. Que sensação estranha! Depois de tanto esperar, de tanto curtir todos os minutos da gravidez, estava ali, “iniciando os trabalhos”. Tudo certo com os batimentos. Primeiro misoprosol inserido: 22h05. Estava tranquila, me preparando pra dormir, lendo Flusser e Daniel no sofá, ao lado, questionando sobre o que eu sentia.

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Ele parecia mais ansioso que eu. As 23h15 olhei pra ele e disse: estranho, tô toda molhada, mas não fiz xixi na calça (eu acho!). Os olhinhos dele se arregalaram, ele saltou do sofá e deslizou seu braço sobre o  meu barrigão, que expelia mais líquido conforme era pressionado: a bolsa, a bolsa, a bolsa rompeu! Mas já? Era um misto de emoção, e um sentimento de “e agora, o que vai acontecer”? As 23h24 veio a primeira “dorzinha” nas costas. Eu, sem certeza do que era, afinal de contas ler sobre sintomas é fácil, traduzir pra vida real não tanto, de qualquer maneira falei: “Dani,  “acho que começaram as contrações”. Era uma dor leve, rápida e com a sensação de “agora vai”. Falamos com a Cris, que prontamente disse: estou indo praí.

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Dr. Rafael chegou de viagem perto das 00h e passou no Ilha, pra ver como estavam as coisas. Ficou impressionado com a rapidez da indução e confirmou: era o início de trabalho de parto. Daniel, muito companheiro, tratou de anotar todas, eu disse todas as contrações. Ele dizia: está regular, de 10 em 10 minutos. E foi evoluindo, evoluindo. Minha maior preocupação era saber se Max estava bem, o resto, era comigo e ia dar conta. Cris, como ela foi fundamental e passou tranquilidade em todos os momentos. Cada vez que eu ficava em dúvida ela estava lá. Acho que ela cansou de quantas vezes eu perguntei: tá tudo bem com ele? Perto das 01h30 as dores começaram a apertar: bola e chuveiro, que alívio!

As dores foram crescendo e junto com elas, nós, crescendo. 03h30 minutos, a sala de parto estava liberada e decidimos subir. Saímos do quarto, fui andando, subi escada, levamos a bola. Abrimos as cortinas, lá estava a lua, lindona. Olhei a banheira e pensei: vamos tentar relaxar ali. Sempre tão lindo pensar no nascimento em uma banheira! Cris preparou o banho, eu já estava com muitas dores. As contrações estavam de 5 em 5 minutos. Antes de entrar me submeti ao primeiro exame: 5 de dilatação. Era bom, mas ainda pouco, muito pouco. Entrei na banheira pensando que tudo ia melhorar. Doce ilusão. Banheira é linda na fotografia, na vida real de uma mulher de 1,80, toda atrapalhada e com aquele barrigão, me pareceu um pesadelo (rs). Voltei pro chuveiro, pra bola.

Que alívio, tá, vai, nem tanto alívio assim! 06h05, contrações fortes, fortíssimas, achei que não fosse aguentar. Olhei pra Cris já chorando: analgesia, por favor, analgesia. Achei que não conseguiria subir as escadas até o local da analgesia, eram 06h35. Dr. Rafael e Cris me acompanharam: 06 de dilatação. Daniel ficou na sala de parto me aguardando, parecia sentir minhas dores. Chegando no tal lugar da analgesia, clima de descontração, nem sabia o que era a tal da analgesia e nem sabia que precisava de tanto cuidado! Não se mexe, cuidado, agora, vai, foi. Ufa! Voltei pra sala de parto nova, descendo as escadas, sorrindo e cantando! Pensei: parabéns ao cientista responsável pela analgesia. Daniel me olhou daquele jeito e se sentiu aliviado. Eu agradecia cada momento por ter um parceirão do meu lado, do nosso lado. Minha preocupação era com os batimentos do Max. Mas essa informação, Cris me passava com frequência e me tranquilizava.

Após analgesia consegui inclusive tirar um cochilo, até umas 10h30. Claro que o mundo perfeito sem dores durou pouco e quando elas voltaram, gente, quando elas voltaram pareciam estar recuperando o tempo que não puderam se expressar (rs). Voltei pra bola, pro chuveiro, saí do chuveiro, fui com bola ao lado da cama, passei pela banqueta de cócoras e lá fui eu, fazendo um circuito naquela sala de parto. 11h30: 08 de dilatação. Preciso de mais uma dose. Mais uma dose de analgesia, por favor. A nova dose de analgesia veio as 13h15min. e Dr. Rafael disse: agora vai! Era ocitocina. A terrível que sempre ouvi falar. A analgesia parecia não fazer efeito, as dores cresciam ainda mais. As 13h40min Daniel que monitorava o intervalo entre as contrações berrou: 30 em 30 segundos. Nesse momento, estávamos só eu e ele na sala de parto, os demais atores da cena estavam nas coxias, mas entraram em cena como num espetáculo musical. Dr. Rafael perguntou onde eu queria ter o Max.

Naquela situação, naquele momento eu não podia pensar em nada, eu que só queria ter, em qualquer lugar. Olhei pra cama e disse: é ali. Subi na cama, ele abriu umas coisas que mais parecia a mesa da casa da oma quando vinha visita (era tipo uma mesa mágica na minha cabeça de criança, que se abria e aumentava de tamanho, acomodando mais pessoas). Cris do meu lado, ar condicionado desligado, berço neonatal pronto. Nessa altura do espetáculo todos os personagens estavam no palco: Eu e o pequeno, Dani, Cris, Dr. Rafael, Pediatra e Enfermeira queridas, que não me recordo os nomes. Dr. Rafael insistia pra eu fazer a força comprida, durante as contrações e eu só dizia em bom tom: “EU NÃO SEI O QUE É FORÇA COMPRIDA”. Naquele momento, Daniel me abanava e beijava e eu dizia: só me abana, não me beija!

Era um dia quente, final de verão. Força comprida, força comprida e os personagens do lado de lá disseram: mais um pouco, olha a cabeça. Daniel que estava do meu lado, partiu pra minha frente. Mais umas 07 forças compridas, as 14h07min, lá estava ele, meu pequeno grande Max. Minhas cordas vocais expressaram toda a emoção, logo as lágrimas, incontroláveis. Eu pari, eu pari! Dr. Rafael passou Max pra Cris, que se encarregou de secá-lo e colocar uma touquinha com ele em meus braços. Daniel e eu nos olhamos e era incrível! Como podia tantas sensações fantásticas ao mesmo tempo? Lágrimas e mais lágrimas e lá estava ele: o nosso bebê.

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Olhei o rostinho dele e pensei: Benjamim Button. Era lindo, inchadinho, avermelhado, olhos de “pintinho” quando acorda. Daniel se encarregou de cortar nossos laços, o cordão umbilical. Eu não me cansava de olhar pra ele, de sentir ele no meu peito, de admirar. Era a nossa história. E que história!

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Max, nasceu as 14h07min, quase 15 horas de trabalho de parto, 4kg120 e 51 cm de pura saúde.

Fernanda Schweitzer