A Fe era minha doulanda, nos falávamos pelo Facebook antes mesmo dela engravidar, e quando estava de 20 semanas veio para Florianópolis me conhecer, seus planos era sair de Concórdia para fazer o parto aqui, com o meu acompanhamento e do Dr Marcos Leite.
Mas, a natureza não tem o mesmo calendário, e Sofia resolveu vir quase 1 mês antes da data provável. Aqui, vai o relato dela.
Obrigada querida por todo o carinho! Beijos da sua eterna doula.

Escrito em Março de 2012

Sábado, 28 de janeiro de 2012
Passei o dia bem, mas bem cansadinha. Fomos almoçar na casa dos pais do Wagner e lembro bem que cansei bastante pra subir as escadas.

Como íamos ter festinha de aniversário da Maria Laura, fui na Arlete fazer uma escova no cabelo.  Já estava pronta pra ir pra festa, quando fui ao banheiro e percebi uma coisa estranha na calcinha. Era o tampão, eu tinha perdido o tampão, minha nossa. Ligamos pro Dr. Zortéa e combinamos de nos encontrar no hospital pra dar uma verificada. Realmente era o tampão, mas eu não tinha nada de dilatação e o colo estava começando a mudar, porém ainda estava grosso. Então o Dr. nos disse que depois que se perde o tampão o parto pode demorar de 2 a 15 dias pra acontecer. Bom, fiquei mais tranquila. Mas aí, com esse novo acontecimento, decidimos adiantar a nossa ida a Florianópolis para o dia seguinte. Maior correria pra terminar de fazer as malas. Pai, mãe, Jarbas, Bety, sogro, sogra, Maurício e Graci, todos vieram em casa. E eu fazendo repouso absoluto.. hehhe..

Bom, tudo pronto, o carro cheio de malas e outras coisas, fui dormir, tentar descansar. Lá pelas tantas acordei com umas dorzinhas, mas nem liguei porque já tido dorzinhas em outras madrugadas. Voltei a dormir e novamente acordei com dores, então decidi olhar para o relógio e verificar o ritmo. No início demorou 40 minutos pra dar novamente, mas aí logo passou para 20 minutos e aí, muito rapidamente, as contrações estavam vindo de 5 em 5 minutos. Eram 3 horas quando elas começaram a ter ritmo, de 5 em 5, de 4 em 4 minutos e umas duravam até 1 minuto. Resolvi acordar o Wagner, nessa hora eu já havia ido ao banheiro várias vezes. O Wagner começou a anotar pra ver a regularidade das contrações, mas não precisou anotar muitas, era óbvio que estávamos em trabalho de parto.

Não consigo lembrar com exatidão o que passou pela minha cabeça quando percebi que o sonho do parto humanizado tinha acabado. Lembro apenas de ter feito algumas orações e pedido proteção.

A partir daí senti como se estivesse sendo levada para algum lugar, e aos poucos sendo hipnotizada. Depois de muito pensar essa foi a palavra que me veio em mente quando lembro daqueles  momentos. Era exatamente isso, como se eu estivesse hipnotizada e sendo levada por uma onda suave. E nós sabíamos exatamente o que fazer, como agir. Em nenhum momento senti medo ou desespero. Eu sabia como fazer. Meu corpo e meu instinto comandavam e eu apenas obedecia.

O Wagner se mostrava muito calmo e tranquilo, estava ali do meu lado o tempo todo me apoiando e me obedecendo, é claro.. heheh. Caminhamos pela casa várias vezes e quando vinha a contração me agarrava a ele com muita força, era como se o seu amor, o seu abraço, o seu carinho fossem a minha analgesia.

Resolvi ir para o chuveiro, sentei num banquinho e fiquei um tempo lá, com aquela abençoada água quente massageando as minhas costas enquanto o Wagner enchia a banheira pra mim. Sai do chuveiro e fui pra banheira. Bom, muito bom. Ali relaxei, meu corpo ficou mais leve e mais solto. Nesse meio tempo o Wagner buscou comida, sim, eu tinha fome e sede também. Bebi bastante água.

Enquanto estava no chuveiro pedi ao Wagner que ligasse para a Cris, ai a Cris.. pensei mil vezes na falta que ela ia fazer e em como queria que ela estivesse aqui.

Depois do banho de banheira, deitei na cama e me apoiei em uma montanha de travesseiros. Por incrível que parece consegui cochilar nesse momento.  O Wagner deitou do meu lado e também conseguiu descansar um pouquinho.

Já era umas 7 da manhã quando o Wagner decidiu ligar para o Dr. Zortéa. Eu concordei, mas desde que ele viesse aqui em casa. Não queria, de jeito nem um, ir para o hospital. Mas o Dr. não concordou. Disse que não teria como, pois não tinha nem um material em casa e etc etc. e eu falando pro Wagner, “não vou pro hospital, não vou, não vou..”. Aí o Wagner disse que depois voltaria a ligar pra ele. Tadinho do Wagner nesse momento. Eu não conseguia raciocinar, estava fora de mim.

Então voltamos a caminhar, na sala teve um momento em que me agachei em cima de uma cadeira (apoiando meu peito e minha cabeça) e ali fiquei. A cada contração ficava imaginando meu corpo abrindo e a nossa pequena descendo.

Logo as contrações não tinham mais intervalo, era uma atrás da outra. Quando era umas 8 horas levei um puxão de orelha do Wagner, “agora temos que ir pro hospital Fernanda” (quando chama de Fernanda.. aaiaiaiia). Bom, não tinha mais o que fazer, ligamos para o médico e combinamos nos encontrar no hospital.

Eu fui completamente contrariada, não lembro exatamente do caminho todo, lembro de passar pela porta de casa e esperar o elevador muito chateada.

Chegamos no hospital e fomos encaminhados para a sala do pré-parto. Troquei a roupa, coloquei aquela roupa verde, horrível e logo o Dr. chegou e veio conversar. Aí ele foi verificar a dilatação e, surpresa, estava com quase nove de dilatação. Nessa hora eu não sabia se sorria ou se chorava de alegria.

Em nem um momento, em casa, eu pensei na dilatação, em quanto estaria e aí, já estava com quase nove.. meu Deus.

Aí, quando eu vejo tinha uma enfermeira do meu lado com apetrechos pra pegar minha veia e colocar soro. Fiquei muito brava com aquilo. Comecei a falar sem parar, “eu não vou tomar ocitocina, não vou tomar soro”. O Dr. estava sentado vendo TV logo na frente, eu olhei pra ele e repeti: “Dr. eu não quero ocitocina”. Ai ele, muito calmamente disse, “calma eu não vou te dar ocitocina, só vamos pegar sua veia pra uma necessidade lá dentro da sala de parto”. Ok, então tá.

Importante explicar que aqui é praxe a aplicação de ocitocina, tendo necessidade ou não.

Bom, o Dr. havia me dito, “quando vier a próxima dor você faz força pra baixo pra ser mais rápido. Fiquei de joelhos em cima da cama, agarrei o Wagner e fiz isso. Eu não tenho muita noção de tempo, mas logo o Dr. veio verifica  a minha dilatação e, pronto, estava com dilatação total. Nossa, que emoção.. nossa pequena estava muito perto agora.

Mas agora vinha a parte que eu mais temia, a dita sala de parto. Eu já havia visto ela por foto e não tinha gostado nadinha. Quando entrei lá pensei, não acredito que vou ter que parir aqui. Fui até a mesa me apoiei olhei pro Dr. e falei “Dr. eu tenho mesmo que deitar aqui?”. É, não tinha escolha, o hospital não permite e tal e tal. Enfim, essa foi a pior parte. Agora posso falar da prática, parir deitada é horrível.

Eu tive que deitar, levantar as pernas naquela posição ginecológica, segurar nuns ferros, levantar a cabeça.. fiquei completamente perdida com tudo isso. Não sabia mais o que tinha que fazer, eu queria ficar de quatro, não queria ficar deitada. Mas foi, muita força e mais força. Era como se eu tivesse algo muito pesado pra empurrar.

Tinha pedido pro Dr. que não fizesse a episio, mas eu sabia que seria difícil ele não fazer. Ele me garantiu que só faria se sentisse necessidade, acontece que o que é necessidade pra ele com certeza não seria para um médico que faz parto humanizado. Ele disse que resolveu fazer porque estava demorando de mais pra ela sair. Eu discordo completamente, apesar de ter perdido a noção de tempo, sei que não foi demorado.

Quando o Wagner me disse que estava vendo a cabecinha dela, me enchi de força, empurrei com muita força; senti ela descendo e foi incrível. Estava sentindo tudo, parecia que eu podia ver ela passando pelo canal, ver o seu corpinho passando. Foi uma sensação incrível, uma mistura de sensações. Dor sim, mas acima da dor tinham outras sensações muito boas e eu procurava me concentrar nelas.

Na coroação senti apenas um calorzinho e quando ela saiu foi uma sensação maravilhosa.

E aí o Wagner começou a falar, “nasceu, nasceu..”. Minha nossa que emoção, que banho de amor; era como se eu pudesse sentir esse amor correndo nas minhas veias, pelo corpo todo. Queria que aquela sensação durasse para sempre..

O desespero veio quando percebi que ela não havia chorado. Entrei em pânico. O combinado era que ela viria direto para os meus braços e que o cordão só seria cortado depois que tivesse parado de pulsar. Acontece que ela não veio pra mim. Eu não lembro muito bem a ordem dos acontecimentos. Só lembro do desespero que senti.

Essa parte eu vi depois no vídeo, lá na hora eu não via nada: o Dr. cortou o cordão e a pediatra pegou ela e levou pra trás da mesa. Eu não sabia direito o que estava acontecendo. E o Wagner ali tentando me acalmar. Ele ia lá olhar ela e voltava pra me dizer que estava tudo bem, que era pra ficar calma. Foi desesperador, mas logo, graças a Deus, ela chorou.

Aconteceu que ela nasceu toda molinha, não respirou e precisou de uma ajudinha. Mas, segundo a Dra. Adriana ela respondeu super rápido e não teve nem uma consequência. Os batimentos dela se mantiveram sempre bons, lembro-me de eles terem auscultado um pouco antes dela nascer e estava 130 batimentos. Ela nasceu com apgar 6 e cinco minutos depois, apgar 9; 2.480kg e 46cm.

Nesse meio tempo estávamos ali tentando expulsar a placenta. Muita dor, senti muita dor mesmo. O Dr. precisou dar uma ajudinha fazendo massagem na barriga, disse ele que a placenta parecia colada. Uau!! Há, o cordão dela era muito, mas muito grosso mesmo.

Aí eles me trouxeram ela. Que emoção, que loucura. Estava vendo o rostinho dela e ela me olhava como se estivesse me namorando com os olhos. Ficamos ali um tempo nos reconhecendo, nos cheirando. Aliás, que cheiro delicioso!! Que coisinha mais linda. Aquela mãozinha querendo pegar meu rosto. Não tem como explicar os sentimentos desse momento mágico. Como disse uma amiga, um passinho no paraíso, né Lise? E com certeza, nunca mais serei a mesma pessoa.

Levaram ela pro seu primeiro banho junto com o papai, claro. E eu fiquei ali terminando os procedimentos. Fui colocada numa maca e levada pelo corredor, onde fiquei esperando pra me levarem pro quarto. Quando eu olho pra frente, lá no fundo vejo um monte de cabecinhas espiando pela porta . E aí comecei a chorar. Entrou a mãe, o pai, a Bety e depois a sogra. Quando vi a minha mãe, chorei muito. Estávamos todos emocionados. Que choro mais gostoso de emoção. Nesse momento me senti envolvida em muito amor e só conseguia chorar.

No quarto a Sofia chegou linda e agitada. Não queria saber de dormir, aqueles olhos azuis super atentos, querendo perceber tudo o que acontecia a sua volta. Logo que ela chegou dei o peito pra ela, não foi muito fácil, mas consegui fazer ela tomar um pouco do colostro.

Depois só consegui fazer ela se acalmar quando a coloquei deitadinha em cima do meu peito. Ela ficou ali aninhada, linda e dormiu. E eu queria que o tempo parasse ali, queria ficar olhando, sentindo, cheirando ela e sentindo toda aquela felicidade pra sempre.

Considerações sobre o parto: por mais que a gente tente imaginar como vai ser, nunca conseguiremos saber antes de viver essa experiência transformadora. Hoje, lembrando de tudo fico tentando entender o que aconteceu comigo. Porque a sensação que eu tenho é que não era eu naquele momento. Foi automático, eu entrei naquele mundinho sem perceber; eu simplesmente já estava lá e era como se eu sempre estivesse estado lá. Eu sentia aquela onda me carregando e me levando e era como se eu já soubesse exatamente o que aconteceria. Estava calma, tranquila, serena.

A dor? Dói sim, mas é um conceito diferente de dor. E parecia que eu já conhecia ela. Era parte do processo, simplesmente algo que eu tinha que passar pra ter minha filha nos braços. Logo depois do parto fiquei tentando lembrar da dor, mas já não sabia mais como ela era. Até hoje, não consigo lembrar dela. Na sala de parto, naquela posição horrível eu senti mais dor, não lembro da dor, lembro de  mentalizar e pedir a Deus que terminasse logo.

Dói sim, mas é totalmente suportável.

Importante comentar que toda a preparação feita nas consultas com o Dr. Marcos foi muito importante. Além disso, li muito, vi muitos vídeos mesmo antes de engravidar. O blog da Cris foi super importante e esclarecedor porque, na verdade, enquanto lia as matérias me preparava psicologicamente para o grande momento. Fez toda a diferença na hora.

Viver isso tudo me transformou. Sinto-me mais forte, mais capaz, mais mulher. Percebi na prática do que somos capazes e do quanto nossa mente é poderosa. Basta querer, acreditar, confiar e deixar fluir. E tudo vai acontecendo naturalmente, como se tivéssemos feito aquilo a vida toda.

Dr. Gilmar Zortéa também foi muito bacana. Sei que ele fez tudo, dentro do que ele considerava seguro para me permitir ter o parto mais humanizado. Ele sabia do meu sonho, porque nas consultas sempre conversávamos a respeito. As enfermeiras também foram bem legais e carinhosas.

Só tenho que agradecer a Deus. Agradecer pela proteção; agradecer por ter ao meu lado um companheiro como o Wagner, que está sempre ao meu lado e que fez toda a diferença durante todo o parto; deixou de ser um abajur naquele dia (né amor?!?!) e trabalhou lindamente; agradecer por ter dado tudo certo e por ter conseguido fazer o meu parto mais humanizado mesmo longe das condições necessárias e sonhadas; agradecer pela filha linda e perfeita; pelo amor gigante que nasceu naquele dia. Obrigada! E que o próximo seja em casa!!