PREÂMBULOS
A história do nascimento do Davi começa bem antes da sua concepção, como a maioria das mulheres que, por razão ou outra, faz a escolha de ser mãe. Na verdade teve uma sementinha plantada anos atrás quando as primeiras amigas mães começaram a aparecer (Obrigada Helena <3). Até então, aos 8 anos de relacionamento e vida profissional, não me parecia faltar amor, amigos, dia cheio e rotina pesada. Não entendia essa coisa de amor incondicional, não era, como para a maioria das garotas da minha criação, um sonho de infância. Não me enxergava me doando, me abrindo, me responsabilizando por um outro alguém tão indefeso.
Mas acontece que o destino me fez uma pesquisadora por profissão. E aí, não sei bem quando e como, uma chuva de curiosidade e admiração pela maternidade me inundou (perto dos 30 anos, preciso confessar). De um dia para o outro a minha timeline cheia de mães parindo bebês muito amados.
E, meus amigos, não teve volta. Quando você encontra esse mundo das “índias” repleto de boa informação, repleto de acolhimento, de encontro, de amor selvagem, de um feminismo libertador, você se hipnotiza. Fica tipo, obcecada. E pensa, EU PRECISO PARIR.
Eu dormia e acordava pensando nisso: Preciso parir. Toda mulher precisa. Ops, toda mulher que queira parir precisa. E eu queria ter esse direito, essa escolha, viver essa transformação.
Entre 1 ano de pesquisa e cuidados com a saúde, engravidamos. Eu sabia que estando em Florianópolis, encontraria uma boa rede de apoio para meu sonhado parto humanizado. Até 35 semanas Davi estava sentadinho vendo a vida (uterina) passar. Cheguei a ver meu parto ir por terra mas com muito pensamento positivo e algumas conversas com meu bebê ele se ajeitou. E todo esse blá blá blá gente é porque meu parto durou 3 horas, das quais tenho apenas flashes de memória. Então vamos para as lembranças daquele dia lindo.
O DIA DO DAVI
Então eu fui aquela que mal deu trabalho ao GO (nem na hora de parir), nunca mandou whatsapp e pouco participava do grupo de doulandas porque sempre estava correndo pra deixar tudo em dia no trabalho. A minha ideia era parar de trabalhar quando completasse 38 semanas, no dia 22/11. Acontece que eu estava me sentindo tão bem e tinha taaanta certeza que Davi seria sagitariano de dezembro que chegou a segunda-feira, 24 de novembro, e lá fui eu pegar ônibus grávida de 38+2, atravessar a ponte e tudo mais.
Sempre imaginava passar meu TP em casa, com o Rodrigo, arrumando minhas coisas, experimentado minha dor, virando a madrugada. Eu tinha na verdade bem pouca coisa preparada, sempre achava que teria muito tempo. Então, perto das 15h, o escritório cheeeeio de gente, reunião, relatórios, etc etc….eis que sinto um líquido diferente.
Liguei para a Cris, tremendo, pensando “não é possível, e o tal de pródomos?”. Ela mandou eu observar, e se, descesse mais líquido era pra eu passar no Ilha onde ela já estava com meu GO, só para averiguar. Chegamos na maternidade às 17h, Pupin me examinou e constatou, bolsa rota com mecônio.
Graças a minha não tão completa pesquisa sobre complicações no parto, aquela palavra na hora não me assustou. Na verdade não me lembrei mais dela ao longo do trabalho de parto. Por causa do mecônio, não pude ir pra casa, e fui esperar no quarto sozinha meu TP iniciar, enquanto Rodrigo se jogava até em casa para arrumar minhas coisas, passar a roupa do Davi, colocar tudo na mala e voltar para ficar comigo.
Hoje eu sei que estas 2 horas entre minha internação e o retorno do meu marido ao hospital, foram as horas mais primordiais para eu conseguir parir. Tive que ir lá no fundo, do meu inconsciente mesmo, conversando com meu bebê, matando as feridas do meu próprio nascimento, para o TP se encaminhar e evoluir.
Eu não sentia nem sinal de contração. Pedi comida e fui tomar um banho para o tempo passar mais rápido. Quando Pupin me examinou a segunda vez (e eu dizendo pra ele colocar logo esse soro/ocitocina porque eu já sabia que ia ficar hooooras ali) já havia dilatado 3 cm, e perto das 19h cheguei aos 5 cm, sem nenhuma interferência médica. Eu estava era achando que aquilo era balela pra não me apavorar. Na verdade a gente passa o trabalho de parto todo pensando que não vai conseguir, é bem essa a verdade.
Daí pra frente, com a chegada do Rodrigo e da noite, as coisas mudaram. As contrações chegaram, os sons se intensificaram, as cores escureceram e fui entrando em um novo universo. Fui carregada para a sala de parto, onde depois de alguns minutos e muita barganha comigo mesma, com meu médico e com a Cris, Davi nasceu. Na água quente, com a sensação do corpo pegando fogo, sustentada física e emocionalmente pelo meu companheiro, pari meu bebê. Eram 21:55h, ele tinha 2,710 kg, 46,5 cm, e eu não quis soltá-lo mais dos meus braços. Ainda não quero…<3
FIM