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Dia 10 de Agosto de 2013, 5:45 de um sábado chuvoso tive a melhor experiência vivida até então: um parto natural “à jato” – de tão rápido-  repleto de emoções (em breve depoimento completo do meu parto aqui no blog da Cris). O Victor saiu do meu ventre para meus braços com 2,700 gramas e 48,5 cm, o serzinho mais iluminado que poderia receber como  presente de Deus!

Como cheguei na maternidade coroando – em 15 minutos após chegar na maternidade o Victor nasceu- acabei parindo no consultório (sala de triagem) ao lado da recepção da Maternidade Ilha e portanto a equipe médica não teve nem tempo para preparar a sala em termos de temperatura ideal, estrutura. Como mencionei acima, emoção à flor da pele. Assim que o Victor nasceu, ele se apresentou “molinho”, liberou mecônio minutos antes de nascer e por isso a equipe me informou que ele iria imediatamente à UTI Neonatal para uma melhor avaliação, afinal, aquele local não era considerado ideal, eu estava tremendo de frio, imagina o Victor que saiu quentinho da minha barriga. Então não me preocupei muito, sabia que ele precisava de uma temperatura e cuidados específicos para um recém-nascido e a maternidade estava lotada, não tínhamos como ir para um quarto imediatamente.

Me senti extremamente bem após o parto, tomei banho de pé com o auxilio da Cris  e andava sem muitas dores uma hora e meia depois de dar à luz, uma maravilha! Logo após meu banho e um rápido café da manhã queria ver o meu pequeno na UTI. A Cris e o Pedro (marido) me acompanharam e lá estava meu anjinho na incubadora, recebendo os cuidados necessários. Naquele momento as lágrimas foram inevitáveis. Era uma mistura de felicidade por ver meu filho bem, perfeitinho (assim que ele nasceu fiquei pouco tempo com ele pele a pele pois foi encaminhado rapidinho pra UTI)  e angustia por não poder abraçá-lo, dar um cheirinho, um colinho, amamentar naquele instante.

Queria saber a real situação do Victor e a pediatra me informou que ele estava com um quadro de hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue) no qual as principais suspeitas da origem era que ele tivesse uma infecção (foram feitos 2 exames que não acusaram tal causa) ou que eu tivesse diabete gestacional (não tive). Como as duas comuns causas foram descartadas era necessária a observação e exames para saber o porque do Victor apresentar hipoglicemia e por sinal, em nível preocupante. A primeira expectativa era de 24 horas em observação e soro glicosado até o nível de açúcar dele estabilizar. Contei cada hora ansiosamente, aproveitei para descansar no quarto da maternidade e até então estava muito mais feliz do que preocupada. Imaginava que logo estaria com meu bebê nos braços.

As 24 horas passaram lentamente e a pediatra me informou que o quadro dele não teve melhoras e por isso eram necessárias mais 24 horas recebendo tratamento e em observação. Nesse momento me senti bem frágil, percebi que o caso não tinha sido algo tão simples assim. Além disso haviam outros fatores que me faziam sentir um aperto no peito: (1) eu já tinha recebido alta em 36 horas – solicitei ao obstetra que me atendeu o total de 48 horas pois estava amamentando e precisava me organizar para continuar o maior tempo possível na UTI.(2)Como todos os familiares e amigos esperavam a chegada do Victor com muito carinho e ansiedade, assim que ele nasceu a pergunta era incessante: “Como o Victor esta? Quando vão para casa? Podemos visitá-los?” Nas primeiras ligações e visitas com um nó na garganta, voz trêmula e o olhos cheios de lágrima eu explicava a situação: que não havia previsão certa da alta do Victor e a causa da hipoglicemia estava sendo investigada. No final do tratamento e alta do Victor foi diagnosticado um hiperinsulinismo transitório e isso não poderia ser diagnosticado ou tratado durante o pré-natal e não teve nenhuma relação com o parto, por isso aceitei de forma mais natural que o ocorrido não estava dentro do que eu poderia “controlar” antecipadamente.

Muitas vezes me perguntavam se a hipoglicemia tinha alguma conexão com meu parto tão rápido e natural, se uma cesárea eletiva não teria evitado a internação do Victor e minha cara de decepção ao ouvir isso era nítida. NÃO! Meu maravilhoso parto só respeitou a hora que meu filho decidiu fazer a passagem para este mundo e foi a melhor forma que eu pude dar à luz: naturalmente, sem medicação, com o mínimo de intervenções, no tempo e local que meu corpo e instinto me permitiram. O Victor precisou de um cuidado especial pois seu organismo precisava amadurecer para funcionar sozinho de forma perfeita, foi algo breve que só serviu de experiência para darmos valor a saúde e pessoas amadas que temos ao nosso lado.

Pari com 39 semanas e 6 dias de gestação e o Victor foi considerado um PIG (pequeno para a idade gestacional) e geralmente em tais casos a hipoglicemia é comum. Apesar de logo ter sido internado desde o primeiro momento o Victor sempre se apresentou muito ativo, esperto, faminto e carinhoso. Me olhava com uma ternura e verdade que só reafirmava a nossa intensa ligação que fazia todo esforço ser “nada” mediante um amor incondicional. Felizmente amamentei o Victor desde o dia que ele nasceu e como produzia muito leite consegui ordenhar leite materno para todos os aleitamentos da madrugada. As mamadas na UTI funcionam com horários pré-estabelecidos, iniciam as 8,11,14,17,20,23 horas e após isso as mães precisam ir para casa descansar. Como eu chegava 1 hora antes de cada horário de mamada para fazer os cuidados do bebe (limpeza, tirar temperatura) eu ficava das 7:00 à meia noite. Quando cogitei a ideia de ficar de plantão toda a madrugada para amamentar o Victor elas enfatizaram que não era autorizado justamente para “obrigar” as mães a dormirem e descansarem já que a rotina é desgastante, tanto física quanto psico e emocionalmente. No momento fiquei chateada por ter que deixa-lo, mas logo entendi que eu precisava recompor minhas energias e dormir ao máximo a noite para me renovar para o próximo dia.

Outro momento delicado foi no dia da minha alta, quando fechei a porta do quarto da maternidade e me percebia “indo embora” sem o Victor. Já tinha imaginado tantas vezes aquele momento da saída, da foto na frente do quarto com o quadro personalizado que fizemos com tanto amor, do nosso lar e familiares nos esperando calorosos. Mas respirei fundo para não entristecer, afinal, o Victor estava me aguardando para a próxima mamada e eu precisava estar forte para alimentar meu filho não só de leite mas da minha energia positiva que contribuía com a melhora do meu tesouro. Nesse dia precisei pôr a razão pra funcionar e planejar como faria para me adaptar a rotina da UTI já que nos intervalos não teria como voltar para casa (moro longe da maternidade) e precisava descansar e me alimentar bem. Eu e o Pedro nos unimos para vivenciar essa fase da forma mais suave e alegre possível e a nossa família se apresentou essencial. Durante os 10 dias que o Victor ficou em tratamento na UTI eu almoçava e dormia as noites na casa dos meus sogros (que moram próximos à maternidade); todos os familiares de ambas partes sempre mandavam muitas vibrações positivas, oravam e torciam por nós de uma forma muito especial, eu sentia muito essa corrente do bem que me abastecia de fé e entusiasmo diariamente. Como sou fotógrafa decidi que mesmo na UTI neonatal eu iria registrar cada dia do meu bebê com foto e filmagem e aquilo não iria anular a alegria dos primeiros dias de maternidade que são únicos, não voltam mais. Além disso tais registros serviam para que os amigos e familiares conhecessem o Victor e acompanhassem cada evolução  já que as visitas eram limitadas.

Como dentro da UTI neonatal a questão de higiene é seguida à risca,eu evitava manusear o celular e por isso combinamos que as notícias seriam dadas pelo Pedro, assim o pessoal ligava para ele. Além disso, os cuidados com o Victor (além da mamada eu tirava a temperatura, trocava ele, conversava, fazia ele arrotar, dormir…) me demandavam quase todo o tempo: ou estava com ele, ou ordenhando leite materno para deixar para a madrugada, comendo ou descansando na salinha de espera ao lado da UTI neonatal ou ao ar livre. Particularmente isso foi muito importante para me fazer relaxar: atender o mínimo de ligações e evitar responder virtualmente as pessoas já que cada conversa era muito demorada e acaba repetindo muito as mesmas coisas, era cansativo e os poucos minutos que tinha para descansar findavam. Mandava e-mails gerais contando as novidades e a maior parte das ligações o Pedro atendia.

Algo que me chamou muito a atenção é que as letrinhas “UTI” assustam mais do que deveriam, a maior parte das pessoas imagina que todas as crianças internadas são muito debilitadas ou estão em estado crítico e a realidade é bem diferente. Os dois bebês que também estavam na UTI Neonatal no mesmo período do Victor eram lindos e saudáveis que nasceram prematuros e por isso precisavam ganhar peso e amadurecer o organismo. Logo percebi que a UTI deveria ser vista justamente como literalmente é: Unidade de Tratamento Intensivo e não necessariamente os internados passam por estados terminais como muitos pensam. Sim, eles precisavam de um tratamento e/ou observação intensiva para garantir a qualidade de vida e o bem estar mas isso não significava que possuem  risco de morte, como muitos transpareciam imaginar.

A parte de visitas da UTI neonatal também é bem restrita – horário definido, 2 pessoas por dia e só se nenhuma mamãe estiver amamentando- por isso procurei que só familiares visitassem o Victor naqueles dias. O Pedro, pai do Victor, foi muito paciente e compreensivo pois alguns dias ele não podia ver o Victor já que algumas mamães ficavam ordenhando LM durante os intervalos, o que proibida a entrada de homens, mesmo pais de outros bebês. Com o passar dos dias eu fui percebendo os horários que as outras mães iam descansar e assim o Pedro podia ficar com a gente na UTI. Tudo foi questão de muito amor, adaptação, flexibilidade e paciência para vivenciar a evolução do nosso bebe em família em tal ambiente.

Devido ao tratamento da hipoglicemia as enfermeiras precisavam verificar o HGT (nível glicêmico) do Victor a cada 2 a 4 horas e para isso precisavam retirar uma gotinha de sangue do pézinho dele, ou seja, meu guerreirinho estava constantemente sendo “espetadinho”, além do soro via endovenosa e por 6 dias precisou de um cateter umbilical. Nos primeiros dias tantos fios me atrapalhavam para pegar-lo no colo e amamentar além de mexer com meu emocional por vê-lo “preso” em tantos “fios”. O Victor teve o caso acompanhado por uma endocrinologista neonatal do Hospital Infantil e no 4º dia de internação o ideal era a transferência para lá caso ele não melhorasse em questão de 24 horas e ao mesmo tempo não havia vaga no Hospital Infantil, portanto estávamos sempre na pressão e expectativa dos acontecimentos e resultados de cada dia. Gracas à Deus o Victor logo começou a apresentar níveis glicêmicos melhores e o tratamento foi sendo diminuído bem gradualmente para maior segurança e bem estar do meu anjo. Ao entrar pela porta da UTI com um sorriso eu logo perguntava para a equipe: “Como foi o último HGT? Qual o gotejo atual?:” e a cada resposta positiva meu coração pulava, quanta felicidade! O Victor ganhou peso a cada dia através da amamentação exclusiva o que me deixava ainda mais feliz. No 5º dia de internação o Victor só melhorava e tudo começou a ficar leve, o clima melhorou radicalmente! Eu acordava muito animada, a amizade com a equipe era a cada dia maior, conversava com mais tranqüilidade sobre o caso do Victor e já sentia que o dia de ir para casa estava cada vez mais perto e com segurança de que tudo estava bem.

Diariamente agradecia a Deus em minhas orações por tudo aquilo que se demonstrava cada vez mais nítido desde o primeiro dia de vida do Victor:

– Por ter respeitado o momento que o Victor quis vir ao mundo e pela conseqüente experiência de um parto natural com tanto amor;

– Pela oportunidade e capacidade de vivenciar a maternidade com saúde e por ter ao meu lado pessoas tão especiais – familiares,amigos e profissionais – para comemorar as conquistas diárias e enfrentar o cansaço e preocupação

– Tive a incrível chance de aprender muito sobre amamentação, saúde e cuidados gerais com o bebê através da maravilhosa equipe de enfermagem e pediatras do Ilha. As técnicas de enfermagem, enfermeiras e pediatras cuidaram do Victor com um carinho e esmero lindo de ver. Me senti muito segura ao deixar a cada noite meu maior tesouro sob os cuidados deles.

– Não tive nenhum problema com amamentação: não senti dores, tinha muito leite, o Victor tinha a pega correta mas com certeza a calma e conhecimento que a equipe me passava para posicionar o Victor corretamente, corrigir minha postura para relaxar e controlar os tempos “efetivos” de mamada/sucção fizeram a diferença. Tive um cursinho na prática sobre amamentação nos 10 dias que permaneci na UTI Neonatal, fato que foi muito positivo para me dar segurança e amamentar sem receios em casa.

– Tive a oportunidade de usufruir de uma estrutura ótima e contar com uma equipe profissional excelente que me passava transparência e segurança nas decisões e procedimentos tomados para a melhora do Victor. Conhecer tantas pessoas especiais nesta fase foi mais um presentão de Deus!

Foto abaixo: O esperado e comemorado dia da alta do Victor após 10 dias de muito aprendizado e vitória.

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Hoje o Victor esta com 2 meses e meio, repleto de saúde e nos ensina a cada minuto como a vida é linda e devemos levar de cada acontecimento a melhor lição possível.

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Na foto abaixo estão registrados alguns dias que vivi na UTI Neonatal com parte dos profissionais que compões a equipe da UTI Neonatal da Maternidade Ilha.  Agradeço a todos os demais que não consegui fotografar. E é claro, meu agradecimento a minha especial doula Cris, que esteve ao meu lado no momento mais importante da minha vida contribuindo com sua energia positiva e apoio emocional e conhecimento constantemente.

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Muito obrigada de todo meu coração, Carla Micaela Torres


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