Muitas gestantes me procuram para tirar dúvidas e fico pasma com as indicações de cesárea que ouço. Médicos indicando cesárea por motivos que vão totalmente contra as evidências científicas, sem fundamento algum e por isso estou fazendo esse post.
Indicações mais frequentes e totalmente fictícias:
– ”Bebê muito grande / Bebê pequeno”
Bebês grandes nascem todos os dias e para medicina um bebê grande é um bebê com peso igual ou superior a 4,5kg (macrossômico). Não tem como saber se esse bebê vai passar pela pelve antes do trabalho de parto. E uma DCP (desproporção céfalo-pélvica) já pode ser determinada no expulsivo (com dilatação total). Bebês pequenos podem passar a impressão de serem muito frágeis mas eles também são beneficiados pelo parto normal, e não é indicação de cesárea.
– “Pouco líquido/Muito líquido”
Podem ser motivos para interromper a gestação em casos específicos mas por indução do parto e não cesariana.
– “Mãe muito nova/ Mãe acima de 35 anos”
Antigamente as nossas bisavós começaram a parir com 14 anos e continuavam parindo depois dos 30 anos. Adolescentes são excelentes parideiras pois tem uma disposição maior e tendem a levar o trabalho de parto de forma mais tranquila (relaxada). Com a idade mais avançada já ficamos mais cansadas e a própria gestação já é um desafio, mas é totalmente possível parir sim.
– “Bacia pequena/estreita”
Não é possível saber se a circunferência interna da pelve é compatível com a da cabeça do bebê. Somente o trabalho de parto avançado vai dizer se o bebê tem espaço para passar ou não.
– “Falta de dilatação ANTES do trabalho de parto”
O colo do útero só vai dilatar com contrações efetivas (3/3 minutos com 60 segundos) durante o trabalho de parto. Dilatação de 2cm no final da gestação é super comum, assim como nenhuma dilatação também é. Todo colo dilata mas as vezes precisa de muitas horas de trabalho de parto ativo para dilatar.
Portanto não existe indicação por esse motivo antes do trabalho de parto.
– “Bebê passando do tempo/40 semanas”
Uma gestação completa dura em média 280 dias = 40 semanas. Podendo se prolongar até 42 semanas com acompanhamento médico a cada 2 dias. No Brasil a grande maioria dos obstetras/hospitais optam por indução com 41 semanas já que esse acompanhamento no final é difícil de ser feito, por conta da disponibilidade dos profissionais. Então a indução deve ser a primeira escolha e não a cesariana.
– “Cordão enrolado no pescoço/pé”
Cordão enrolado é tão comum de cerca de 40% dos bebês nascem com uma volta em algum lugar do corpo. Na grande maioria das vezes só é descoberto na hora que o bebê nasce e não trás problema algum.
Não é indicação.
– “Parto demorado”
Não tem como prever o tempo que o trabalho de parto vai durar. E não tem um tempo máximo para que o bebê nasça, pode ser 12h, 16h, 24h ou mais. O importante e fundamental é uma boa avaliação durante o processo de parto, tanto da parturiente quanto do feto. Esse acompanhamento dos sinais vitais é que vai mostrar se o bebê está tolerando bem o trabalho de parto ou não. Portanto não é indicação de cesárea apenas o fato do parto estar demorando.
– “O bebê PODE entrar em “sofrimento fetal”
Todo bebê pode desenvolver uma ”frequência cardíaca não-tranquilizadora”. Hoje esse termo sofrimento fetal não deve mais ser usado pois dá a impressão de que o bebê está sofrendo o que NÃO é verdade. O batimento do bebê pode alterar na gestação, no parto ou até mesmo durante a cesariana. Durante o trabalho de parto o batimento deve ser monitorado com frequência e isso determina se o trabalho de parto pode continuar ou se o parto deve ser antecipado.
– “Cesárea prévia/ anterior”
Hoje é conhecido como VBAC – vaginal birth after c-section e é totalmente seguro e recomendado.
O risco de ruptura de útero é muito pequeno e não chega a 1%, mesmo assim a mãe e bebê são monitorados com frequência durante o processo de parto, sendo observado inclusive possíveis sinais de ruptura.
– “Gestante abaixo do peso/acima do peso”
Não faz diferença quando se trata de parto, mas em uma cesariana quando mais acima do parto a gestante estiver maiores os riscos da cirurgia.
– ” Cordão com artéria umbilical única”
Também não tem problema algum e o bebê é monitorado como em qualquer trabalho de parto.
– “Streptococos do tipo B positivo”
A maioria dos hospitais realiza a profilaxia durante trabalho de parto e deu.
Significa que durante o trabalho de parto a gestante recebe no soro antibiótico para prevenir infecção no bebê. Não é indicação de cesariana por ser uma bactéria comum na flora vaginal e por não trazer maiores riscos para o bebê.
– “Anemia”
Sabemos que na cesariana a perda de sangue é muito maior do que no parto normal portanto anemia é um motivo a mais para ter um parto e não uma cesariana.
-“Pressão baixa/Pressão alta”
Pressão baixa não trás riscos durante o parto. A gestante só precisa beber bastante água e evitar ficar imersa em água morna muito tempo. Um acompanhante com um leque ajuda bastante rs.
Pressão alta pode ser indicação de interromper a gestação por indução de parto já que não é seguro fazer uma cirurgia com a pressão elevada.
Se você quer parto normal e ouviu o seu obstetra falar que não é possível por um desses motivos, procure uma segunda opinião de um obstetra conhecido por atender partos normais. As doulas são ótimas para indicar esses profissionais.
Uma boa hora a todas,
Cris Doula
Cris De Melo
Téc. Enfermagem
& Doula!