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Massagem e exercícios fortalecem e aumentam a elasticidade da musculatura que é extremamente exigida na gestação e durante o parto

 Então, a mulher se descobre grávida e começa a planejar cada detalhe para que o bebê chegue tranquilamente. Claro que o cuidado com a saúde passa a ser prioridade e ela trata logo de comer melhor, praticar algum tipo de atividade física e, obviamente, trabalhar o períneo, certo?  Errado, a importância desse grupo muscular costuma ser ignorada pela maioria das gestantes.

O períneo é a região localizada entre a vagina e o ânus, que sustenta todos os órgãos pélvicos. Ele é muito exigido durante a gravidez, por conta do sobrepeso. E no parto, já que o bebê passa através dele para nascer, seu papel é de protagonista. É razão suficiente para investir em exercícios para essa musculatura, ao longo dos nove meses.

De acordo com a fisioterapeuta Miriam Zanetti, especialista em assoalho pélvico de São Paulo, o correto seria que todas as integrantes da ala feminina fortalecessem os tais músculos durante a vida inteira, independentemente da pretensão de engravidar. “As meninas deveriam aprender a fazer contrações perineais logo em sua primeira consulta ao ginecologista, para evitar problemas futuros, como a incontinência urinária”, justifica Miriam.  Esses movimentos,  batizados como exercícios de Kegel, fazem a manutenção dos músculos do assoalho pélvico, impedindo que eles enfraqueçam com o passar dos anos.

Vale ressaltar que o sobrepeso da gravidez é apenas um dos fatores de risco para disfunções do assoalho pélvico. Obesidade, prisão de ventre e atividades físicas de impacto também contribuem para minar o tônus muscular. E diz a crença popular que o parto normal deixaria a mulher mais larga na região do quadril. De fato,  o processo pode lesionar a musculatura perineal, mas algumas atitudes importantes durante a espera evitam que isso aconteça.

A obstetra Catia Chuba, de São Paulo, confirma os benefícios do preparo da região perineal para a hora do parto. “Os cuidados com o períneo durante a gravidez facilitam a passagem do bebê pelo canal vaginal, prevenindo a necessidade de uma episotomia”, garante a médica.  O termo complicado se refere ao conhecido “pique”, um corte feito no períneo para aumentar o canal de parto. Ele começou a ser feito de forma rotineira, com o pretexto de proteger o períneo da mãe de lacerações graves e de problemas como a bexiga “caída”. Mas, atualmente, as evidências mostram que o corte desnecessário pode favorecer infecções, fibrose, lesionar a musculatura, gerar dor durante o sexo e, no pior dos casos, levar a incontinências urinária e fecal. Infelizmente, a prática continua a ser ensinada de modo corriqueiro nas universidades, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde de restringí-la. “Para preservar o períneo de traumas no parto normal, o caminho mais seguro é prepará-lo previamente”, garante Catia.

A fisioterapeuta Rafaela Rosa, especializada em saúde da mulher e doula, de Brasília, aponta, ainda, outros benefícios dos cuidados com o períneo durante a gestação: “Um assoalho pélvico forte oferece maior apoio ao útero, reduzindo a pressão sobre a bexiga e diminuindo as dores lombares, tão comuns na gravidez”.

Existem duas maneiras de preparar a região perineal. A primeira é o fortalecimento, realizado por meio de exercícios de Kegel, Pilates ou Ioga e que deve ser praticado durante toda a gravidez. A outra é o aumento da elasticidade, obtido com a massagem perineal, que pode ser aplicada  após a 32ª semana de gestação – ou por meio do uso de um aparelho dilatador vaginal, normalmente liberado pelo médico na 35ª semana.

Confira algumas técnicas eficazes para fortalecer e aumentar a elasticidade dos músculos perineais:

Exercícios de Kegel 

Devem ser realizados ao longo de toda a vida e estão liberados durante a gestação inteira.

Como fazer: contraia a vagina e o ânus, como se estivesse puxando-os para dentro e para cima do seu corpo, sem usar outros músculos (como os do abdômen e das pernas) e sem prender a respiração. Mantenha a musculatura contraída o máximo que puder. Em seguida, vá relaxando, devagar.

Ao voltar à posição inicial, empurre os músculos para fora e, então relaxe.

Se estiver com dificuldades de reconhecer a musculatura que deve ser contraída, faça o exercício de interromper o fluxo da urina, quando estiver no banheiro. Estes são os músculos que serão exercitados.

Para que seja eficaz, devem ser feitas 3 séries de, pelo menos, 50 repetições cada, no decorrer do dia. Dá até para praticar enquanto estiver digitando no computador, sentada no carro e vendo televisão, por exemplo.

Massagem perineal 

Deve ser feita a partir da 32ª semana de gravidez pela gestante ou por seu companheiro o que, aliás, pode ser muito prazeroso e de grande ajuda, já que o tamanho da barriga costuma atrapalhar na hora de fazer sozinha. Mas, peça orientação ao seu obstetra antes de iniciar a massagem.

Como fazer: lave bem as mãos, com água e sabão, e encontre uma posição confortável. Passe algum óleo vegetal, preferencialmente aquecido em banho-maria, no polegar e insira o aparelho na vagina (converse antes com seu médico sobre o massageador mais adequado). Faça pressão para baixo e deslize o dedo pela parede inferior. Mantenha a pressão e sinta a musculatura sendo estendida. Deslize, subindo pelas laterais e fazendo a forma de um U. Finalize com movimentos circulares.Aumente a intensidade gradualmente, para evitar que se machuque.

Apenas 10 minutos por dia da massagem já são suficientes para garantir uma elasticidade adequada para o parto.

“Eu fazia a massagem perineal com óleo de gergelim, com a ajuda do meu marido, que sempre me cobrava para não esquecer”, conta Clarissa Fernandes Pinto, que também praticou os exercícios de Kegel. O resultado? Ela não sofreu nenhuma laceração durante o parto natural do filho Miguel.

Dicas: fazer compressas com toalhas mornas no períneo, por 10 minutos, ou tomar um banho quente antes da massagem ajudam a relaxar ainda mais.Evite mexer no orifício da uretra para evitar infecções urinárias.

Epi-no 

É um dilatador vaginal fabricado na Alemanha. Pode ser comprado na Europa (custa o equivalente a cerca de R$336) e no Canadá (R$ 408) ou com o distribuidor no Brasil por R$ 589,90.

Trata-se de uma pequena pera de látex que deve ser introduzida na vagina e insuflada até o limite que a gestante suportar. Depois, é só retirá-la devagarinho.

De acordo com Miriam Zanetti, o dispositivo pode ser usado diariamente, a partir da 34ª semana de gestação. Apenas alguns minutinhos por dia já são suficientes para alongar a musculatura. Segundo Catia Chuba, mulheres que usam o Epi-no chegam a ter 5 vezes menos riscos de apresentar laceração no períneo durante o parto.  Mas, atenção: o uso do Epi-no requer orientação profissional – seja de um obstetra, seja de um fisioterapeuta especializado, para evitar fissuras na mucosa vaginal.

E no pós-parto?

Depois que o bebê nasce, os cuidados com o períneo devem ser retomados. Os exercícios de Kegel ajudarão a musculatura a recuperar sua firmeza. Você poderá recomeçar os movimentos cerca de uma semana após o parto normal e, no caso de ter sido submetida a alguma sutura, assim que os pontos caírem. O dilatador também pode ser nessa fase.

As recomendações são igualmente válidas para quem  deu à luz por meio de cesárea, por conta de todo o peso que o assoalho pélvico precisou sustentar durante os nove meses. Nessas situações, a mulher deve esperar pelo menos 15 dias e só começar a praticar quando não sentir mais desconforto por conta do corte da cirurgia. Mas, sempre com orientação médica, nunca é demais repetir!