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Sempre me enxerguei “mãe”. Principalmente depois do nascimento da minha irmãzinha linda, há 7 anos, quando senti na pele o novo sentido pra vida que a chegada de uma criança traz, mesmo quando chega de surpresa. Meu marido e eu começamos a namorar faz 4 anos, eu tinha 15 e ele 25 (novinha, né?!), e desde o início do relacionamento conversávamos sobre filhos. Sempre me encantei com o seu desejo de ser pai. Não tinha dúvidas que ele seria o pai dos meus filhos, e seria um paizão!

Confirmei que estava grávida ouvindo o coraçãozinho do meu pequeno, com seis semanas. Um dos melhores sentimentos do mundo! Antes mesmo de engravidar já tinha visto vídeos de partos na água, e tinha me encantado! Foi aí que decidi que teria um parto normal. Porém aquele parto normal “sem dor”, com anestesia e tudo mais.

Comecei a mergulhar no mundo da humanização do parto e o MEU MUNDO mudou. Tomei a pílula vermelha e saí da matrix, e depois que descobri todas as verdades sobre o parto, não tinha mais volta! Estava decidida que meu parto seria natural, com o mínimo de intervenções médicas necessárias.

Sabia que não era fácil, que teria que lutar e enfrentar alguns obstáculos pra isso, e o primeiro foi a minha obstetra, que só consegui perceber que era cesarista disfarçada lá pelo sexto mês de gestação! Com 32 semanas o Tales estava bem abaixo do peso, provavelmente por causa da minha rotina muito agitada, e minha placenta em grau II. Fiz repouso, e em 15 dias meu pequeno já estava praticamente no peso normal. Com 34 semanas minha placenta estava em grau III, e o Tales estava com peso ótimo, mas a médica me deixava apavorada dizendo que ele dificilmente chegaria às 39 semanas, nasceria antes. Na última consulta ela foi bem direta, disse que meu líquido amniótico estava no limite, e se diminuísse mais teríamos que fazer cesárea – detalhe: estava em 8,9, considerado NORMAL. Fugi.

Conheci o Dr. Fernando Pupin, graças à minha amada Doula, Cristina Melo. Ficava mais tranquila a cada consulta com esse médico maravilhoso, e fomos assim até as 40 semanas.

40 Semanas de gestação, e o bebê que nasceria prematuro estava lá, quietinho na minha barriga. A ansiedade estava aumentando, e dia 18/11 me deu uma vontade doida de faxinar! Achava que era sinal do Tales chegando, mas nos dois próximos dias senti como se estivesse resfriada, meio mole, cansada, mal sabia que era meu corpo guardando energia pro que estava por vir…

Dia 21/11 meu marido e eu saímos para jantar, aproveitei e comi bastante pimenta pra ver se o nosso menininho resolvia chegar, e não deu outra! Só chegamos em casa e as primeiras “cólicas” apareceram. Era hora do nosso bebê, ele estava pronto pra nos conhecer. Meu marido não conseguia tirar o sorriso bobo do rosto a cada contração.

Avisamos nossa doula, e resolvemos ir pra Florianópolis, aproveitando que não tinha trânsito (moramos em Garopaba). Estava quase amanhecendo quando chegamos, as contrações estavam bem suportáveis, ainda bem espaçadas. Tive um dia normal, exceto pelas contrações um pouco doloridas. Comi bem, caminhei, passeei.

Por volta das 22h do dia 22 as cólicas começaram a apertar. Ficaram mais intensas e menos espaçadas. Eu jurava que estava ao menos perto do trabalho de parto ativo, mas estava com 2cm de dilatação. Praticamente 20 horas pra dilatar dois centímetros. Se fosse atendida em uma maternidade qualquer, já tinha ido pra faca por falta de dilatação!  (O parto foi no Ilha Hospital e Maternidade)

Mesmo assim estava animada. Tomei uma tacinha de vinho pra relaxar, e três horas depois já estava com 5 cm, às 2h da manhã fui internada!

Entregamos o plano de parto para o plantonista, que leu atentamente e não fez objeções.

Fui pra tão sonhada sala de parto, meu sonho estava se realizando. Banheira, bola, banquinho de cócoras, chuveiro, bercinho aquecido, um sonho pra qualquer mulher que deseja parir com liberdade!1608472_3743083433663_931406161_n

Eram seis da manhã e o plantonista chegou pra me avaliar. Quando entrou na sala, eu tinha acabado de deitar na maca, e a contração foi tão forte que vomitei (deitada era a única posição em que a dor era insuportável). Ele me ofereceu plasil, mas eu não quis, estava bem.

Fez o toque e disse que eu tinha evoluído pouco, estava com 6 pra 7cm e o bebê estava alto, não tinha encaixado. Perguntou o que eu achava de rompermos a bolsa artificialmente. Eu e minha Doula só nos olhamos, e eu disse que não queria. Já tinha lido sobre prolapso de cordão e decidi manter a bolsa intacta.

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Durante uma contração – concentração, entrega e respiração calma.

Caminhei, rebolei na bola, às vezes entrava na banheira pra relaxar. Eu, meu marido, a Doula e a fotógrafa, Carol Dias, conversávamos, ríamos e descansávamos a cada intervalo entre as contrações. Quando elas vinham, eu ficava quietinha, imersa na Partolândia, concentrada, e conversava mentalmente com o meu filhote que estava chegando. Chamava ele, dizia que estávamos prontos. E fomos assim até a dilatação total.

A essa altura já havia trocado de plantonista, quem estava nos acompanhando agora era a maravilhosa Dra. Christiane Falcão, foi um anjo em nossas vidas, tenho que dizer. Me senti à vontade demais com ela, o único toque que fez em mim foi na banheira, nada desconfortável! Além de toda a confiança na nossa Doula que ela mostrou ter!

Quando estava com dilatação quase total ela falava pra eu mesma me examinar (minha bolsa não tinha rompido, então não havia risco de contaminação), até que eu senti a cabecinha do meu amor! Fui a primeira a senti-lo, foi emocionante, foi o gás que faltava pra chegar no expulsivo!

Com a dilatação completa e vontade incontrolável de empurrar, senti o círculo de fogo, aquela queimação forte. Era meu filho coroando, e aos pouquinhos ele veio ao mundo, na banheira, empelicado, recebido pelo papai e por mim, direto pro meu colo e em seguida pro meu seio.

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A onda de ocitocina tomou conta de nós. Éramos só os três. Esquecemos das pessoas que estavam em volta, estávamos no nosso momento, aproveitando a sensação mais entorpecente e contagiante que já vivemos. Era amor transbordando. O momento em que as nossas vidas, minha e do meu marido, mudaram pra sempre.

É muita emoção pra descrever em palavras, a gente vê a vida com outros olhos, vê como tudo é pequeno diante de tanto amor. Todos os dias eu me lembro da emoção e tenho vontade parir de novo e de novo! Lembro da sensação de pegar meu bebezinho e sentir aquela pele macia, de ver meu marido tirando a pelezinha da bolsa amniótica do rostinho dele, de tocar no cordão umbilical e senti-lo pulsando até parar, para o papai cortar e entregá-lo ao mundo definitivamente.

Saímos da banheira e só então os procedimentos padrões foram realizados. Logo que sentei na maca houve a dequitação da placenta, super rápido, de uma vez só, inteirinha. A Dra. Chris me examinou, e pra minha surpresa, NENHUMA laceração!

No Tales não demos banho, não aplicamos o colírio de nitrato de prata (aplicamos o PVPI, que, segundo médicos de nossa confiança, é benéfica e não judia da criança), não aspiramos vias aéreas. E o papai acompanhando tudo. Feito isso, logo meu pequeno voltou pro meu colo e foi mamar novamente. Só então eu senti o desgaste do parto, senti uma fome enorme! rsrs

Assim nasceu o Tales, nosso amor materializado, com 51,5cm, 3.550kg, no dia 23/11 às 15:49h. Desde o início das contrações foram 40 horas de trabalho de parto, de TP ativo foram 14.

Foi natural, do jeito que deve ser. A dor é completamente suportável, não há sofrimento algum, apenas alegria e expectativa.

Quero agradecer novamente à minha Doula amada, que fez toda a diferença na gestação e no parto, à Dra. Chris, que fez renovar as esperanças sobre os obstetras atuais, à Carol Dias, que eternizou lindamente esse momento, e cada vez que eu vejo as fotos eu dou uma passadinha na Partolândia, terra linda, e fundamentalmente ao meu marido, que me apoiou desde o início, que me incentivou a ter uma Doula (eu resisti por muito tempo, dá pra acreditar?!) e tornou isso tudo possível.

Desejo que todas as grávidas que leram este relato tenham as mesmas oportunidades que eu tive, e que tenham pessoas que te amam apoiando sempre! Desejo profundamente que cada mulher tenha o emponderamento que eu tive a oportunidade de vivenciar.

Não há melhor sentimento que, ao ver o seu filho nascer, saber que foram necessários apenas os seus corpos e os seus hormônios pra isso acontecer, nada além. O vínculo criado com o parto ativo é levado pra toda a vida.

Por Thayse da Silveira e Marcos R. Hoffmann