Fazer uma cesárea eletiva, sem indicação médica baseado em evidências científicas, é abrir mão de uma experiência única e transformadora.
Acho que todo mundo sabe que eu fiz uma cesárea, totalmente desnecessária, totalmente induzida pela minha obstetra. e não foi nada agradável.
Convenhamos que a vida não é fácil. Se formar numa faculdade, ter um bom emprego, conhecer a pessoa certa, fazer um casamento dar certo, e ter filhos, tudo isso é difícil para a maioria das pessoas. Mas não é por isso que vamos desistir e pular essas fases da vida, certo? A maternidade em si não é fácil. Carregamos o bebê por quase 10 meses na verdade, e não 9 como todo mundo fala. E quando esse ser chega, bagunça totalmente as nossas vidas. Tomar banho, comer devagar, e dormir viram tarefas extremamente difíceis. Por que então o parto deve ser fácil??
O trabalho de parto para o bebê é fundamental para prepará-lo para viver fora do útero. Por cerca de 40 semanas ela dependia totalmente da mãe, o corpo dela fazia tudo pra ele. E agora, ele tem que enfrentar o mundo exterior, cheio de barulho, cheiros estranhos, frio, calor, o ar nos pulmões e a fome. Por que então vamos pular essa preparação e obrigá-lo a aprender tudo isso de uma hora pra outra? Imaginem o bebê dentro do útero, protegido, aquecido e dormindo. Agora imaginem todo o líquido indo embora, aspirado, um ferro gelado tocando sua cabeça, uma mão puxando-o, arrancando-o lá de dentro. Isso aparece agradável para você?
É esse tipo de nascimento que você deseja para seu filho? Depois de ser arrancado do útero, sem qualquer sinal que estava na hora de nascer, ele é colocado em um pano também gelado, e sua fonte principal de oxigênio é cortada imediatamente (cordão umbilical). Agora ele PRECISA para sobreviver, respirar sozinho. Mas e se seu pulmão ainda não estiver totalmente maduro? Esse é o principal motivo para bebês nascidos de cesáreas eletivas precisarem de internação na UTI neonatal, o termo técnico é ”desconforto respiratório”.
Ele é levado para longe da mãe, e conhece nesses primeiros minutos um mundo frio, a sensação de abandono, algo entranho em seu nariz, e em sua garganta. Se a sensação disso tudo fosse boa, eles não teriam ânsia de vômito.. é eles sofrem na cesárea eletiva.
Aí vem os procedimentos, injeção na perna (vitamina K), um produto que arde nos olhos (colírio de nitrato de prata), o banho, dado de forma mecânica, sem o toque da mãe, sem a voz da mãe, nem nada que faça com ele se sinta seguro.
E só então, depois de vestido, etiquetado, ele fica com a mãe. Mas pera, ela está operada e não vai conseguir cuidar dele por algumas horas. Então, a primeira mãe que esse bebê vai conhecer, é uma pessoa frágil, com dor e doente (pois acabou de passar por uma cirurgia). Uma mãe totalmente incapaz de suprir suas necessidades.
Tem certeza que a cesárea é mais fácil?
Enquanto isso, durante o trabalho de parto o bebê recebe hormônios que o preparam para a vida fora do útero. Cada contração o empurra gentilmente em direção a saída, cada contração é um abraço de despedida do útero. Ele ouve a voz da mãe, que conversa com ele e explica o que está acontecendo. Ele sente quando a água começa a sair aos poucos, sente que as contrações estão ficando mais fortes, e esse estresse é ótimo pois ajuda o bebê a viver nesse mundo externo. Quando chega a hora de nascer, com a força de sua mãe e da contração, ele vai descendo e se expremendo num túnel quente e macio. Isso faz com que os líquidos nas vias aéreas e estômago sejam expelidos naturalmente, sem ânsia, sem dor. Ele nasce, ele não é arrancado, e vai para o colo da pessoa que ele sempre conheceu, sua mãe. Ele fica lá, assustado por ter saído, mas reconhecendo o cheiro da mãe, a voz dela e de seu pai, é beijado, abraçado e se sente seguro. Seu cordão ainda está conectado, então mesmo se ele tiver dificuldade nas primeiras inspirações, ele tem um tanque de oxigênio natural, conectado a ele.
Só após longos minutos, quando seu cordão parar de pulsar, é que ele será retirado do colo da mãe, e examinado pelo pediatra, ainda na mesma sala, com o pai do seu lado, e a voz da mãe sempre presente. Ali serão feitos os exames básicos, que levam poucos minutos, e ele volta para o colo da única pessoa que ele quer naquele momento. Os procedimentos necessários (vitamina K) são feitos tardiamente, de preferência no colo da mãe e o banho fica pro dia seguinte. É preferível que ele tenha contato com as bactérias da mãe, que fortalecem seu sistema imunológico, do que as bactérias hospitalares. Só após a primeira mamada, é que o bebê será vestido, de preferência por ela ou pelo pai, e voltará novamente para o seio. Sua mãe não está operada, e está totalmente capaz de cuidar dele.
Vale a pena trocar um parto natural por uma cesárea? É justo fazer essa troca sem que o bebê tenha o direito de passar pelo processo fundamental para sua vida extra-uterina?
Cesárea eletiva, você e o bebê são as pessoas que mais vão perder com essa escolha. Pense de novo!
Cristina Melo
Mãe da Sofia & Doula
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