Sabe-se que, para a grande maioria das mulheres, a episiotomia é um problema, não uma solução: ao invés de promover a saúde genital ou a do bebê, provoca danos sexuais importantes, dor intensa, aumenta os riscos de incontinência urinária e fecal, e leva com freqüência a complicações infecciosas, problemas na cicatrização e deformidades, genitais, entre outros agravos. Trata-se de uma violação dos direitos sexuais e reprodutivos, dos direitos à integridade corporal, à informação e escolha informada, à condição de pessoa e à eqüidade no acesso à saúde.
Vários estudos mostram que as mulheres relatam que o momento mais doloroso da parto foi exatamente o da sutura da episiotomia. Muitas mulheres relatam que escolhem a cesárea para fugir de uma episiotomia, especialmente depois de uma experiência traumática e com seqüelas. Diante da permanência desta prática na assistência ao parto, injustificável frente às evidências científicas, a episiotomia de rotina tem sido considerada por vários autores como uma forma demutilação genital, e mesmo como violência de gênero cometida pelas instituições e profissionais.
No Brasil, prevalece um sistema erótico baseado nas noções de atividade-masculino e passividade-feminino. Essa concepção mecânica e passiva da vulva e da vagina é transposta para o parto, dificultando a compreensão, mesmo pelos médicos, de que faz parte da anatomia e fisiologia normal das mulheres que seus genitais aumentem de tamanho durante o sexo e o parto, voltando depois ao tamanho usual.
A concepção dos genitais femininos como passivos ratifica a idéia da vagina “apertada” ou “frouxa” (mas sempre passiva, diante do falo em movimento que a estimula e é estimulado). Isto dificulta a compreensão da vagina e vulva como órgãos ativos, capazes de se contrair e relaxar, de acordo com a vontade feminina, até por se tratar de musculatura voluntária, tal como re-descrito pelos estudos mais recentes da anatomia e fisiologia genital feminina. Em resumo, mais do que prevenir a episiotomia, a questão é como promover a integridade corporal no parto.
Isso inclui as mudanças institucionais discutidas acima, mas também na formação de recursos humanos e na opinião pública, para reduzir os índices de episiotomia desnecessária (lesão sexual iatrogênica no parto), promovendo uma assistência ao parto menos agressiva e uma vida sexual mais satisfatória, para mulheres e suas parcerias.
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