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Em setembro de 2015 comecei a me sentir estranha, e apesar de tomar anticoncepcional o teste de farmácia confirmou minhas suspeitas, estava grávida. O beta reafirmou, 5 semanas. Chorei por horas. Além do susto eu tinha horror a idéia de parir devido a tudo que crescemos ouvindo sobre parto. Deixei bem claro para meu marido: queria uma cesárea. Procuramos um médico cesarista para o pré-natal. Na primeira consulta tudo combinado, garantimos a cesárea eletiva e fechamos até o preço. No meio de tudo isso estávamos planejando mudança pra Santa Catarina e decidimos manter os planos. Como sou uma pessoa que tudo gosto de pesquisar comecei a ver vídeos de cesárea.

O Cássio, meu marido, viu alguns e achou um horror, parecia uma cirurgia muito complicada pra trazer a vida. Porém, o parto “normal” me assombrava. Tinha o “pique”, ficar horas deitada sentido dor, sozinha. Segui pesquisando e encontrei o vídeo “O Renascimento do Parto”. Foi o meu primeiro contato com a humanização do parto. Me encantou. Decidi que queria parir assim: amparada e com muito respeito e amor. Em nove meses acontece muita coisa. Encontrei o blog da Cris Doula, li muitos relatos de parto, me emocionei e só tinha mais certeza que era isso que eu queria. Então marquei um encontro com a Cris e foi maravilhoso. Que pessoa linda, tranqüila e iluminada. Tive certeza que a queria ao meu lado.

Apesar dela sugerir um parto domiciliar, decidimos que seria no hospital. Pois, entre outras coisas, não tínhamos nem casa em Floripa ainda. Faltando dois meses para o fim da gestação nos mudamos. Ainda levamos mais de um mês para arrumar tudo. Nesse tempo eu assisti o congresso online Nascer Melhor II. Foi maravilhoso. Eu realmente entendi o que era a humanização do parto e fiquei com muita vontade de ter escolhido o parto domiciliar. Já com 37 semanas eu fui conhecer o hospital. Fiquei arrasada. Apesar da sala de parto ser linda, todo o resto possuía aquela frieza típica dos hospitais. Não me senti acolhida, nem confortável ali. Na mesma semana tive um encontro com a Cris e desabafei.

Falei o quanto tinha horror a hospital e o quanto estava com medo disso atrapalhar meu trabalho de parto. Quando a questionei se estaria muito tarde para tentar o domiciliar ela respondeu: só é tarde quando o bebê nasce. Ainda nos deu todo o apoio. Indicou o Amanascer e disse que não custava nada entrar em contato e conversar. Fiquei super animada e o Cássio me apoiou. No mesmo dia liguei e falei com a Marcela. Ela foi uma querida e de imediato entrou em contato com a Larissa, que na mesma noite me ligou. Foi super atenciosa e no dia seguinte veio em minha casa. Conversamos por horas e ficamos muito seguros da nossa decisão. Com 38 semanas houve essa mudança nos planos.

Decidimos manter segredo, pois achamos que contar poderia nos atrapalhar. Foi o tempo de arrumarmos tudo o que precisávamos para o parto, e uma semana depois, com 39 semanas, num sábado(11/06), comecei a sentir contrações. Eram leves e bem espaçadas. Avisei a Cris. Tentei me manter tranqüila. Fomos ao mercado e enquanto fazíamos as compras eu ia tendo contrações. Em cada uma delas eu parava, ficava olhando fixamente para um lugar e respirando fundo. Foram ficando cada vez mais fortes. Voltamos pra casa. O Cássio preparou um macarrão que eu levei um bom tempo para comer. Fiz o teste do chuveiro e resolvi contar as contrações. Estavam irregulares. Porém, mais fortes e a cada 4 ou 5 minutos. Avisei a Cris e ela sugeriu que talvez fosse melhor ela vir pra nossa casa. Concordamos.

Por volta das 22 horas ela chegou. Tomamos chá, conversamos e ríamos entre uma contração e outra. Ainda estavam bem irregulares. Ela sugeriu que fossemos descansar pois a madrugada seria longa. Fomos deitar. Mas deitada era muito pior. Então ficava de quatro apoios na cama e entre uma contração e outra eu descansava. Levantei da cama por volta das 3h30min e comecei a vomitar. Fiquei arrasada. Fui até a sala, onde a Cris estava e disse que não sabia se ia agüentar porque não estava nem em trabalho de parto ativo e já estava vomitando. Ela disse que era bom sinal, significava que o TP estava evoluindo.

Decidiu contar as contrações. Não lembro o que deu, só sei que elas estavam bem curtas e cada vez mais fortes. Eu dizia pro Cássio: eu não sei o quanto mais forte pode ficar. Então a Cris sugeriu que chamássemos a equipe de parto: Larissa e Gabriela. Concordei. Então o Cássio ligou pra elas enquanto eu sentia uma contração. Fui para a bola, o Cássio ficou na minha frente e a Cris fazia massagem nas minhas costas. As contrações estavam cada vez mais fortes. Por sugestão dela fui para o chuveiro. Foi muito bom. A água quente ajudava a relaxar entre uma contração e outra. Pedi pro Cássio entrar comigo e a Cris nos deixou a sós. As contrações cada vez mais intensas.

Comecei a duvidar que conseguiria. Porém, ele me encorajava enquanto fazia massagem em minhas costas. Entre uma contração e outra eu me debruçava em seus braços. Não tenho idéia de quanto tempo ficamos ali. Pra mim pareceu uma eternidade(depois soube que foi cerca de uma hora). Cris entrou algumas vezes para ver se precisávamos de algo. Depois a chamei e disse que tinha cansado do chuveiro. Quando saí vi a Lari e a Gabi. Não consegui ver direito muita coisa. Eu disse que estava cansada e me deitei no sofá. A Lari pediu pra fazer o toque e perguntou se eu queria saber a dilatação. Eu não quis saber — e acho que fiz bem, porque estava em 5cm, eu iria ficar muito desanimada se soubesse disso na hora — e continuei no sofá.

Eu estava com minhas pernas em cima das do Cássio, que estava atrás de mim e a Cris ao meu lado. Eu estava cansada, comecei a falar que não conseguiria. As contrações vinham cada vez mais fortes. Entre uma contração e outra eu dormia, apagava, já acordava urrando e levantando o corpo, falava que não ia conseguir. A Cris e a Lari me incentivando, acreditando em mim e me dando força. Senti um líquido quente escorrendo pelas pernas: era a bolsa que tinha estourado. Comecei a pedir pra ir para a banheira, porém ainda faltava um pouco pra temperatura certa. Mais uma ou duas contrações e me chamaram para a banheira. Ao levantar percebi que estava exausta. Entrei na banheira e a água estava maravilhosa. As contrações ficaram diferentes e perguntei o que eu deveria fazer. Ouvi a voz da Lari dizendo: faz o que teu corpo pedir.

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Então comecei a empurrar. E eu urrava e empurrava. Tinha muita vontade de fazer força. O Cássio estava comigo na banheira. Podia senti-lo mas eu já quase não abria mais os olhos. Falava pra Cris que estava cansada, que se estivesse no hospital eu ia querer analgesia. Elas me diziam que faltava pouco. Ouvi a voz da Larissa dizendo que ao invés de gritar que não conseguia eu podia chamar a Clara. E assim fiz. Quando a contração vinha eu gritava: vem filha! E depois apagava. A dor da contração é algo único. Eu jamais sentira algo parecido antes. Era como se estivesse sendo partida ao meio. Mas de uma forma estranha, não como uma dor de doença ou de ferida, mas uma dor de vida. Eu urrava e gritava muito.

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Sentia como se estivesse sendo aberta, rasgada de dentro pra fora. Era como uma onda. Podia senti-lá passando por todo o meu corpo. Sabia quando ela começaria, alcançava o ápice e ia embora. Então eu descansava, pois sabia que voltaria mais forte. Era cada vez mais forte. Não era só a Clara que estava nascendo, estava nascendo também a Helena mãe. O mais interessante é que quando passa, você está bem. Entrei na partolândia. Podia ouvir as vozes da Cris e da Lari bem distantes. Quando eu abria os olhos via somente a Cris, que sempre estava bem perto, com a expressão serena e a voz doce sempre me encorajando. Estava cansada, exausta. Dizia que não agüentava mais, queria descansar.

Elas diziam que faltava pouco e eu chamava a Clara com muita vontade a cada contração. Eu me sentia sendo partida ao meio e ao dizer isso lembro da voz suave da Cris dizendo que eu estava mesmo, que eu era uma e agora seria duas. Eu li em algum texto que a dor do parto era necessária para te trazer para o momento e fazer estar presente. E realmente eu estava ali. Estava entregue à dor e conectada com o meu íntimo. Não me importava que era a madrugada mais fria do ano. O tempo era relativo, sem ligação com o relógio mas com a intensidade de tudo o que eu estava vivenciando.

A única coisa que importava era o imenso amor e o cuidado gentil que eu recebia enquanto estava sendo livre para ter o meu parto como deveria ser. Comecei sentir a ardência. Acho que era o círculo de fogo. A Lari pediu pra fazer o toque e disse que faltava pouco. Mais duas ou três contrações e saiu a cabeça. Eu não conseguia olhar pois estava com muita dor. Mas pude ouvir o Cássio chorando de emoção e me dizendo que já estava vendo a nossa filha. Senti ela se mexendo e saindo. A Lari a pegou e colocou no meu colo. Eu não podia acreditar, era nosso bebê! Eu tinha conseguido, tinha parido. Ela era tão linda e perfeita.

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Ficamos na banheira mais um tempo e eu sentia as contrações para o nascimento da placenta. A Lari sugeriu que fossemos ao sofá que era melhor para a placenta sair. Amamentei minha pequena e me alimentei um pouco. O Cássio do meu lado o tempo todo. Logo a placenta nasceu. Estava muito “ocitocinada”. Me sentindo amada, amparada e respeitada como mulher. Eu pari e apesar da dor valeu muito a pena. Por minha mãe, que teve seu parto roubado pela violência e depois pela “desnecesárea” e por todas as mulheres EU PARI!!

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E apesar de ter parecido uma eternidade pra mim, foram 4 horas de TP ativo. E muito, muito amor envolvido. Obrigada meu amor, Cássio, por ter acreditado e confiado em mim e me apoiado o tempo todo. Obrigada Cris pelo seu carinho, cuidado e amor. Você foi essencial. Obrigada Lari e Gabi pelo profissionalismo incrível. Me respeitando como mulher, como ser humano e por todo o amor e carinho com que vocês fazem isso. Vocês são incríveis! E obrigada filha pelo parto lindo e maravilhoso.
Obrigada Deus!

Helena