Sempre sonhei em ser mãe. E também sempre imaginei que quando chegasse o momento, seria de um parto mais natural possível. Esse sonho começou a se tornar realidade em novembro de 2011, ou melhor, em dezembro, quando descobri a gravidez, de 5 semanas.

O tempo passou e quando cheguei na 20ª semana, começava a pesquisar onde eu queria ter meu parto (pois não conhecia a situação das maternidades em Florianópolis e parto domiciliar ainda era impossível, pois não havia espaço coerente em minha casa, quem sabe no próximo!). Uma idéia eu já tinha, queria parto na água. Partindo desse sonho, descobri um único local onde poderia realizar meu parto com estrutura favorável ao parto natural e humanizado (de acordo com relatos).

Até então estava dando tudo certo até que comecei a perceber que minha médica estava me direcionando para uma cesárea, através dos ultrassons, sempre alegando algum problema com meu bebê (veja o meu relato completo sobre a mudança de médico no post: http://terceirotrimestrekaila.blogspot.com.br/).

O que me salvou vem a seguir. Foi crucial para não amargar o momento mágico que sempre sonhei. Conversando com uma querida amiga, também grávida na época, me falou do seu desejo – como o meu – de realizar um parto natural e na água, dizendo que chamaria seu médico para acompanhá-la, pois temia que algum plantonista não respeitasse a sua vontade no parto e que chamaria uma doula para apoiá-la naquele momento único e especial, assegurando assim a realização do seu sonho. Aquela conversa mexeu comigo profundamente, foi um anjo que a enviou pra falar comigo… Percebi que precisava fazer alguma coisa, antes que fosse tarde. Então, percebendo como aquela médica não atendia minhas necessidades, decidi que não iria mais realizar meu pré natal com ela nos altos das 37ª semanas.

Naquele mesmo dia conversei com o meu marido, sobre tudo que sentia e abri meu coração sobre o desejo de chamar uma doula para me acompanhar durante o parto. Achávamos que essa decisão já seria o suficiente, sem necessidade de pagar um médico assistente para acompanhar meu parto. Sempre fui muito emponderada nas minhas decisões, por isso acreditava que médico nenhum me faria mudar de idéia. Mas a doula, assim como a minha amiga, me alertou sobre os riscos de um médico plantonista não favorável ao PN. Como precisava de um médico para acompanhar as últimas semanas da minha gestação, acabei optando por um que já fosse favorável ao PN e tivesse um bom histórico de humanização. Caso no momento do parto, o médico plantonista não fosse favorável ao PN, teríamos um plano B (como a doula fala, hehe) e chamaríamos o médico que escolhemos.

Eu sentia que a Kaila viria logo, sentia isso dentro de mim mas não sabia se essa sensação era de que ela viria ao mundo muito rápido ou de que viria antes do esperado (mas já chego lá!). As contrações de Braxton Hicks me confundiam o tempo todo, pois estavam cada vez mais fortes. A cada semana, e a cada consulta médica, eu torcia para já ter algum sinal de que a Kaila estivesse chegando. Na 39ª semana completa, a ansiedade começou a bater e se ela demorar muito mais? E se tivesse que esperar 42 semanas? Já não conseguia dormir direito, e estava não via a hora de ela estar em meus braços. Relutava contra a impaciência e comecei a mentalizar que ela viria no momento em que estivesse pronta para vir… relaxei, desencanei! e naquela semana, nadei umas 3 vezes! Mandei várias mensagens para a minha doula, que sempre muito atenciosa me dava orientações!

Na sexta-feira (com 39ª e 5 dias) me deu uma vontade louca de arrumar a casa, o peso da barriga parecia não incomodar e me movimentei o dia todo, deixei a casa brilhando! No sábado e no domingo me reuni com minha família (minha mãe ainda não tinha visto pessoalmente meu barrigão, pois ela mora muito longe). No sábado comecei a sentir umas contrações diferentes mais doloridas, como se fossem ferroadas, me enchi de esperança e fui rebolar na bola e pronto!  A dor passou… desanimada, só me restava dormir! No domingo, estava me sentindo estranha. Fiquei mal o dia todo, com dor de cabeça e enjôo, parecia até uma TPM! Naquela noite aquelas mesmas contrações “estranhas” voltaram, mas desapareceram novamente. Senti que estava chegando a hora e fui dormir feliz.

Às 5:00 horas da manhã, me acordo sentindo uma contração dolorida, diferente das outras, pois havia umas fisgadas no ventre!

Não queria me iludir e tentei voltar a dormir… Mas uma onda dolorosa porém não intensa voltou insistente 10 minutos depois e tomou conta de mim, concentrando-se no meu ventre e se espalhando pela coluna e região lombar. Meu coração vibrou! Abracei minha barriga, senti a minha princesa dar um pulinho, ela estava dando seus sinais de que estava pronta!

Senti a Ocitocina agindo no meu corpo.

Senti que seria naquela segunda feira, 20 de agosto de 2012, com 40 semanas e 1 dia, que a Kaila viria ao mundo.

Tentei dormir mais um pouco, pois a contração não era intensa e dormi até as 8 horas, quando me levantei , senti uma vontade imensa de caminhar (detalhe: até então não suportava caminhar!). Fui até uma padaria com minha mãe e no caminho, já sentia a frequência daquelas contrações (porém a dor era bem leve). Mais ou menos umas 10 horas, mandei uma mensagem para a doula: “Se prepara porque que acho que a Kaila vem hoje!”. Ela falou para continuar monitorando a freqüência, que essa  fase poderia se estender por um bom tempo… Às 12 horas (meio dia), saímos de casa eu e meu marido, pois ele tinha uma consulta médica marcada e também era o dia de minha consulta de rotina pré-natal. Também preparamos nossas coisas para nadar (minha rotina semanal) e decidimos levar as malas da maternidade só para garantir (se eu realmente eu estivesse certa, era bom estar pronta!). Nesse horário, as contrações começaram a ficar intensas e bem regulares, não tinha rompido a bolsa, mas percebi uma pequena mancha amarelada na calcinha com um pouco de sangue (não acreditava que estava perdendo o tampão).

Estávamos a caminho do consultório do médico do meu marido e ele me perguntou se eu queria ir direto para a maternidade, eu disse que poderia aguentar ele fazer a consulta dele primeiro. Então eu aguardei no carro enquanto ele era atendido. Neste momento as contrações se tornaram muito mais intensas e insuportáveis. Avisei a doula e contei a ela que eu estava indo para a maternidade, ela disse para lhe retornar assim que eu falasse com ele.

Coincidência ou não e muita SORTE era meu médico obstetra humanizado que estava de plantão naquele dia.

Às 14:30 estava com o meu médico que fez o toque e confirmou: 5 cm de dilatação. Eu e meu marido vibramos! Agora tinha certeza absoluta que ela estava chegando e que estava em pleno trabalho de parto! A cada contração eu ficava mais alegre, sabia que ela estava chegando, ah que alegria inexplicável! Mas ainda perguntei ao obstetra se eu poderia ir nadar no clube próximo e ele disse que poderia, mas acabei mudando de idéia decidindo de ficar ali mesmo. Meu marido perguntou ao médico se havia uma previsão de que horas a Kaila nasceria e ele respondeu que não havia como saber, porém pela evolução deu um palpite para as 22 horas. Então me encaminhou para a sala de parto, pois as contrações já eram muito intensas e dolorosas. Avisamos a doula, e ela recomendou que eu fosse para o chuveiro para aliviar as dores das contrações e que já estava a caminho!

Enquanto meu marido preenchia a documentação e eu aguardava uma técnica de enfermagem me encaminhar para a sala de parto (tive a sorte de pegá-la desocupada), eu senti novamente uma vontade imensa de caminhar. Fiquei em frente à maternidade caminhando de um lado para o outro, parando apenas nas contrações…  Quando a técnica de enfermagem chegou, o meu obstetra disse: “Vão pela escada, vai fazer bem!”.

Nisso, senti um PLOC! A bolsa rompeu!

Nem acreditava, parecia um sonho, estava tudo acontecendo como eu imaginava, sentia uma felicidade plena!

Já na sala de parto, fui direto para o chuveiro, e meu marido massageava minhas costas durante as contrações, cada vez mais intensas e próximas! A doula chegou pediu um lanche para mim (consegui comer tudo!) foi muito bom, pois me senti mais disposta! E as contrações não estavam mais dando trégua: foi uma atrás da outra…

Cheguei a pensar: PARA TUDO! amanhã eu continuo!)

Eu vocalizava alto mas mesmo assim mantive a calma e tentava mentalizar que a cada contração era a minha bebê chegando, então precisava me concentrar.. Em meio a cada contração, eu recebia o apoio carinhoso do meu marido e as mãos de fada da doula! Ela preparou a banheira e logo em seguida eu entrei.

Não sei que horas eram, mas lembro que era um dia lindo de sol e calor em pleno inverno! O sol batia na janela e iluminava toda a sala! Como não dizer que estava tudo perfeito: o amor da minha vida segurando a minha mão, a minha doula passando sua segurança e meu médico ali só assistindo sem interferir apenas zelando, a fotógrafa discretíssima e a pediatra no canto dela aguardando respeitosamente!

Tínhamos um desejo: meu marido queria pegar, ou melhor, pescar a nossa filha assim que nascesse! Meu marido perguntou ao médico se existia uma melhor forma de pegar o bebê quando ele saísse: e ele só falou: “segue seus instintos!”…

A partir daqui fica mais difícil descrever, não só pelos meus olhos se encherem de lágrimas, mas porque simplesmente eu me entreguei a Partolândia! (a Partolândia é aquele mundo para onde as mamães vão quando ganham seus bebês).  Eu e meu marido estávamos completamente conectados um ao outro. De certa forma dividimos um momento unicamente mágico juntos! Acredito que ali, todas as testemunhas deste parto, estavam ocitocinados! Havia ali uma energia muito especial tomando conta!

                Minutos após eu ter entrado na banheira, eu comecei a sentir uma vontade imensa e prazerosa de fazer força, virei bicho: quando chegava a contração, eu fazia força e SIM senti uma sensação muito prazerosa! A doula deu ao meu marido um espelho, pois já era possível ver a cabecinha cabeluda da nossa princesa!

Lembro que a doula me ajudou a ficar de cócoras na água: comecei a sentir uma queimação no canal vaginal e falei isso e ela carinhosamente me respondeu: “É assim mesmo, ela está chegando!”. Então parece que CHEGANDO foi a palavrinha mágica, e quando veio uma última contração fiz uma força tremenda..

E não senti mais nada, cheguei a fechar os olhos e quando eu os abri: minha princesa Kaila nas mãos meu marido que prontamente a entregou em meus braços!

Que emoção é essa? não tem como explicar ver seu filho pela primeira vez!

Não parava de admirá-la, não acreditava que ela estava ali, minha pequena Kaila, trazida pelas mãos do pai parteiro às 17 horas e 20min, duas horas após a minha entrada na maternidade!
O tempo parece que tinha parado por ali! Ficamos enamorados por aquela bebê rosada e redondinha!

E na banheira a Kaila recebeu o seu primeiro banho. Logo, eu senti uma vontade imensa de oferecer o peito a ela. E pronto! Estávamos conectadas duplamente: pelo peito e pelo cordão umbilical!

 A assistência foi totalmente humanizada: a pediatra fez a avaliação inicial sem tocar, respeitando aquele momento tão íntimo e o obstetra só interviu quando o cordão umbilical parou de pulsar! Inclusive foi meu marido que cortou o cordão! A Kaila só saiu do peito no momento que fiz a dequitação da placenta, em torno de 40 minutos depois, e fiz 4 pontos devido a uma laceração (que em nada me atrapalhou naquele momento tão mágico). Em seguida, ela voltou aos meus braços logo após ser pesada e medida!

                 47cm e 3,190 kg de pura fofura…

Saí da sala com a bebê “grudada” no peito (A Kaila mamou umas 4 horas seguidas).

(Logo em seguida quem foi para a sala de parto foi uma amiga querida que lindamente também pariu na água como queria.. )

Totalmente mergulhada na Partolândia, eu contemplava a Kaila, tão linda, parecia um anjinho! Foi tudo maravilhoso e a doula sempre nos acompanhando e nos ajudou muito depois no pós parto! Após algumas horas depois do momento mágico, já tomava meu banho sozinha. Foi tanta emoção que quase não consegui dormir naquela noite!

                Difícil de explicar tudo o que aconteceu, mas sei que completou uma casamento, fazendo de um casal comum, uma família! Ainda hoje quando eu fecho os olhos, eu relembro de quando a vi pela primeira vez e sinto saudades (muitas saudades) desse momento tão mágico! De vez em quando me pego emocionada de lembrar e dou uma mergulhada na Partolândia (ah que mundo bom)!

Sempre sonhei com esse momento e imaginava o tempo todo que seria assim: rápido, prazeroso e emocionante! Acreditei que eu era capaz e consegui! Mas foi essencial uma equipe humanizada ao meu lado garantindo a segurança da Kaila de vir ao mundo como idealizamos!

Realizei meu sonho de parir na água e percebi o quanto é possível! Minha filha vai crescer ouvido a maneira especial que veio ao mundo: respeitosamente no momento em que esteve pronta, com muito amor e carinho!

PS: ainda bem que não fui nadar, senão o parto seria BEM inusitado..)

Cris Doula – Carol e Bruno, serei infinitamente grata por ter sido convidada a participar de um momento tão mágico e maravilhoso como o nascimento da Kaila, certamente foi um dos partos mais especiais para mim. Vocês são um casal fantástico, totalmente conectados que sempre respeitaram o que o outro sentia e desejava. Estarão sempre no meu coração! Muito obrigada por tudo tudo! Mil beijos.


5 comentários

Os comentários estão fechados.