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O nosso Joaquim foi parcialmente planejado. Digo parcialmente porque eu e o meu marido nunca teríamos coragem dizer um para o outro “ok, vamos ter um filho”. É uma decisão muito grande e de enorme responsabilidade. Não é fácil você abrir mão da sua vida a dois para inserir um serzinho completamente dependente.

Por isso, deixamos rolar. A gente já não se cuidava tanto, mas sem neuras, sem olhar calendário, nada. Como tomei anticoncepcional por muito tempo, sabia que podia demorar. Mas o plano de Deus era maior e mais rápido! Em menos de um mês acabou nos presenteando.

Descobrimos a gravidez com 5 semanas e na época, estávamos na Disney, com meus pais e sogra e só pude dizer adeus às montanhas russas radicais! Optamos por esconder de todo mundo a gravidez para não ter expectativa nenhuma, mas só conseguimos por mais 3 semanas. Todo mundo já desconfiava mas negávamos até o final.

Contamos a novidade no dia do meu aniversário de 30 anos e daí pra frente, foi só festa. Achávamos que teríamos uma menina, mas novamente Deus quis diferente e a surpresa de que viria um menino foi maravilhosa. O nome só conseguimos escolher com quase 5 meses. Depois de muito debate, meu marido me deu de presente um vinho com o nome dele, Joaquim. Significa ‘estabelecido por Deus’. Mais real, impossível.

A ideia inicial de parto era cesárea. Por medo. Por achar que se o bebê estava pronto, não tinha o porquê de esperar e correr algum tipo de risco. Pensava assim sem ter qualquer conhecimento. Mas meu pensamento mudou em um dia, depois de ver o filme ‘O Renascimento do Parto’. Eu queria tocar meu bebê assim que ele nascesse. Queria dar a ele todo o carinho que ele precisava nos seus primeiros segundos de vida.

E assim veio a indicação da Cris através de uma amiga. Nos conhecemos e tínhamos a certeza que era a melhor escolha. A Cris tem o dom de no primeiro encontro fazer parecer que te conhece há anos.

A gravidez foi passando, chegando na reta final e nem sinal do Joaquim querer chegar. E sempre achei que ele chegaria antes.. Completamos 40 semanas e nada. A Dra. Bruna, que me acompanhou no pré-natal e também foi indicação da Cris, falou pra eu já pensar na indução e deixou a recomendação para internação no ilha após completar as 41 semanas.

Durante os 9 meses da gestação me preparei para muita coisa, mas com certeza não tinha pensado em indução. As opiniões eram muitas e de todos os lados. “Espera ele chegar na hora que ele quiser”. “Pra que esperar mais? Um conhecido esperou até o final e a criança nasceu com um probleminha na perna de tão apertada que ficou”. Cada um dizia uma coisa. Eu e o meu marido fugimos pra um hotel fazenda um final de semana para relaxarmos e decidir o que fazer, sem interferências, sem pressão.

E eu estava exausta, chegando no ponto de não “aguentar mais”. Não queria isso. Estava com 24kg a mais e para fazer tudo era pesado. Há tempos já não dormia direito. Queria receber meu filho bem e se continuasse, não ia acontecer isso. Fugir de todos foi a melhor coisa. Então decidimos esperar as 41 semanas e nos internar. Esperei por ele o tempo que pude esperar. Agora tinha que pensar em mim.

Fomos com 41 semanas para o Ilha, com malas prontas. Voltamos para casa. Não tinha quarto disponível. Aparentemente, todo mundo resolveu ter o filho antes do Natal, por cesárea eletiva. Voltei no dia seguinte de manhã e nos consultamos com a Dra. Karol. Ela entendeu o que eu estava sentindo e concordou com a internação e indução. Disse que os riscos de se esperar não superavam os benefícios. Porém, aconselhou a retornarmos no final do dia, para começar a indução a noite e eu poder ter a última noite tranquila. E assim voltamos para casa novamente, mas dessa vez com a certeza de que teríamos o nosso presente nos braços até o Natal.

Nos internamos no final do dia 22 de dezembro. A indução começou às 21h e eu não sentia nada além de levíssimas cólicas. Às 6h a bolsa estourou quando levantei da cama e as cólicas foram aumentando. Às 8h eu já estava com contrações. Avisei a Cris, que pediu pra eu ir monitorando. Por volta das 10h mandei mensagem pra ela dizendo que já estavam muito fortes, apesar de espaçadas. Na mesma hora ela disse que estava indo.

Quando ela entrou pela porta foi um alívio! Ao mesmo tempo, pedi desculpas para ela porque o médico tinha acabado de fazer o toque e eu só estava com 2cm de dilatação. Eu só pensava “já sofri um tanto pra ter só 2cm, que Deus me ajude a chegar nos 10cm”. Não foi fácil. Nada fácil. Foi a coisa mais difícil que já fiz na vida.

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As contrações ficavam cada vez mais fortes e perto das 14h fomos para a banheira pra ver se aliviava. No começo foi gostoso, mas não achava nenhuma posição confortável e cada minuto que passava eu sentia mais dor. Chegou a hora da analgesia. Relutei um pouco porque queria aguentar, mas já estava insuportável e estava apenas com 4cm de dilatação. Então eu fui para o centro cirúrgico e depois de uns 40 minutos, pude sorrir novamente. Fiquei 3 horas sem dor e todos puderam descansar um pouco apesar de meu cérebro não ter desligado.

Fizemos novo toque perto das 18h e estava com 8cm. Finalmente! Mas a Cris verificou as contrações e elas tinham ficado espaçadas. Lá veio a ocitocina e não demorou muito pra elas virem e virem mais fortes. A dor voltou e agora era diferente. Sentia muito mais atrás, como se o bebê já estivesse descendo. Era muito diferente e doloroso. Ali eu já não sabia que iria aguentar e pensava na cesárea. Novamente veio a analgesia. O efeito já não foi o mesmo como da primeira vez. Apenas me proporcionou alguns minutos de pouco conforto.

Já tinha passado das 20h e não sabíamos quem assumiria o plantão. Batidas na porta e vejo a Dra. Bruna e seu sorriso entrando. Minha médica do pré-natal, que me acompanhou nos últimos meses, era o anjo de plantão. Ali eu vi que tudo aconteceu por um motivo. Que alívio que deu!

Novo exame de toque e eu continuava com 8cm. Fiquei indignada! Tanta dor pra nada! Eu queria analgesia de novo, cesárea, qualquer coisa pra acelerar o processo e acabar com tudo aquilo. Mas não podia mais analgesia. Estávamos em um ponto que precisava sentir a contração para poder fazer força e ajudar no expulsivo. O jeito era aguentar. E ter que aguentar era insuportável. Me questionava o porquê de eu ter escolhido passar por aquilo. Escolhi sofrer por livre e espontânea vontade. Não fazia sentido.

Me sugeriram que eu andasse pelo corredor e agachasse toda vez que viesse a contração. Mas sair da onde eu tava era impossível. Gritar no corredor para todos verem eu daquele jeito era impossível. Como o Joaquim tinha parado de rotacionar por conta da analgesia, a posição que favorecia era ficar de quatro na maca, me apoiando na cabeceira. Nunca tinha pensado em ter meu filho daquele jeito, de um jeito tão primitivo. Mas realmente foi a única posição que eu conseguia fazer força e descansar apoiada na cabeceira da cama.

Não me lembro direito mas acho que a Dra. Bruna fez um novo toque e ajudou a chegar nos 10cm. Não acreditava que tinha chegado na reta final. Depois disso, nunca gritei tanto na vida. Eu gritava, urrava. Chorava. Implorava pro Joaquim sair. Dizia que não aguentava mais. Chorava. Implorava para a Dra. Bruna puxar ele. Chorava. Implorava pela cesárea. Chorava. No fundo, eu sabia que estava em um caminho sem volta. Ele tava vindo e não fazia sentido abandonar tudo. A Cris estava do meu lado esquerdo. Meu marido do lado direito. Os dois se revezavam em me abanar, segurar meu cabelo, limpar meu suor e me dizer que eu era capaz, que tava quase, que eu ia conseguir. A Cris me dizia através do olhar. O pouco que eu conseguia olhar pra ela eu via que ela estava ali, me apoiando.

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A dor era insuportável. As contrações vinham e lembro de fazer força três vezes em toda contração. Sentia rasgar tudo. Era muito doloroso sentir ele descer. E quando a força acabava, parecia que ele voltava tudo de novo pra dentro e teria que recomeçar do zero. Odiava isso. Parecia que todo o trabalho ia em vão. Eu sentia queimar mas não vi nada de partolândia. Partolândia lembrava “Disneylandia” e Disney era divertido. Aquilo não era.

Só queria que tudo aquilo acabasse. Quando a Dra. Bruna disse que já dava pra ver a cabeça, eu não acreditava que só agora ela via a cabeça mas ao mesmo tempo me deu força para continuar. Achava que não era possível, mas a dor só aumentava. Meu deus. O que que eu fiz? Meu marido segurava a minha mão e dizia que tava quase, pra eu aguentar. Achei que ia virar a noite em trabalho de parto. Que eu ia desmaiar de dor.

Mas às 22h16 nasceu o nosso Joaquim, com 54cm e quase 4,2kg. Um bebezão. Justificou tamanha dor. Ele nasceu, eu de quatro e escutei de alguém “vira pra pegar ele”. Eu estava paralisada. Não conseguia me mexer. Acho que entrei em choque. Não acreditava que tinha conseguido, que tinha acabado, que ele finalmente tinha nascido. Passaram ele por debaixo das minhas pernas e pude vê-lo. Eu não conseguia dizer nada, mas não achava possível aquele bebê, tão perfeito, ter saído de dentro de mim. Era inacreditável.

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Depois eu virei, consegui deitar com ele nos meus braços e nós ainda ligados pelo cordão. O papai cortou quando parou de pulsar e viramos duas pessoas não mais conectadas de forma fisica, somente emocional. E eu tinha esquecido completamnte da placenta. Tínhamos que esperar ela sair. Meia hora e nada. Uma hora e nada. Joaquim já estava nos procedimentos com o pediatra e nada da placenta sair. Ocitocina no cordão para ajudar. Dra. Bruna puxava e nada. Quando ela disse pra eu fazer força não acreditei. Como assim mais força? Que força? Eu estava acabada. Quando comecei a ter contrações de novo deu vontade de chorar. Isso de novo? Mas tinha que fazer força. A placenta tinha que sair. Alguns empurrões com uma força que não sei da onde veio, ela saiu. Era enorme. Justificou a demora.

Papai já estava com Joaquim nos braços, me esperando. Mas não tinha acabado ainda. Para não me levar para o centro cirúrgico, a Dra. Bruna suturou ali mesmo. Lembro de ter perguntado quantos pontos ela estava dando porque eu só via a linha passando de um lado para o outro. Ela disse “não estou contando, mas não se preocupe, externo só vai ficar um”. OK.

Me perguntaram se eu utilizaria a placenta para alguma coisa. Não, não sou dessas (mas nada contra quem consome). Só queria o quadro da Cris. Ela fez o quadro, que ficou lindo por sinal. Maravilhoso ter a tela pintada e lembrar como ela surgiu. Depois a Cris fez questão de vestir o Joaquim com a sua primeira roupinha. Mais uma vez, lindo.

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Finalmente, fomos para o quarto. A Cris foi junto com a gente, nos reinstalou, viu que estava tudo bem e se despediu. Ali acabava um ciclo que horas antes eu achei que não teria fim.

Passamos o Natal no hospital, ainda com a adrenalina a flor da pele. Foram 3 noites mal dormidas que se juntaram com noites nada dormidas em casa. Por mais que a gente leia sobre, é impossível estar preparada para o puerpério. É muito difícil. Saímos de casa sendo dois e voltamos sendo três. Não tivemos um tempo de adaptação. Foi de repente. Mas como tudo na vida, tudo se ajeita e tudo passa. Acho que esse último é o principal mantra da maternidade. Tudo passa, acredite!

Agradeço imensamente o meu marido, meu companheiro e amigo, Matheus. É claro que ele sempre esteve do meu lado, mas no dia do parto eu vi um homem diferente. Aquele que me apoiou, estendeu a mão e não me deixou por um minuto. Ele tentava, de forma singela e amorosa, fazer algo impossível: aliviar a minha dor. Ali estava o verdadeiro significado de parceria.

Agradeço também a Renata Larroyd, que foi a nossa fotógrafa. Não teríamos fotógrafa até a semana do parto. Ela estava procurando casais grávidos para ampliar o seu leque de trabalho e conhecemos ela através da Cris. Ela foi até a minha casa na segunda e na sexta-feira estava do nosso lado acompanhando o nascimento do Joaquim. Eu que não pretendia registrar o trabalho de parto, fico muito feliz pela Renata ter aparecido em nossas vidas e ter dado de presente para a família toda fotos lindas pra deixar o dia ainda mais inesquecível. Ela foi de uma sensibilidade incrível e demonstrou isso através do seu trabalho.

Agradeço também a Dra. Bruna, que me acompanhou na maior parte do pré natal e que tive a sorte de poder contar com ela na reta final do parto. Acho que na sala ela era a pessoa mais calma do universo e deixou claro pra mim que não deixaria eu sofrer em vão e de forma desnecessária. Sem o incentivo e amparo dela eu também não teria conseguido.

E claro.. O que dizer da Cris? Ela foi o anjo que sempre aparentou ser. Com toda a sua serenidade e experiência, nos conduziu da melhor forma possível. Com playlist, massagens e muito carinho, conseguimos enfrentar tudo o que o dia nos reservou. Já disse pra ela e digo novamente: acho desumano uma mulher passar por um trabalho de parto sem ter uma doula do seu lado. E sem ela, eu teria ido pra cesárea logo no início!

Hoje meu bebê tem quase 2 meses e comecei esse relato há mais de duas semanas. Aos poucos vamos arranjamos um tempinho. Ainda é cedo, é claro, e cada fase é uma fase. Mas as coisas estão se ajeitando, o amor aumentando e as descobertas chegando. O mais importante nessa nova etapa não é estar preparada para tudo e sim, aceitar que nada será perfeito e surgirão muitas dificuldades. Muitas mesmo. Mas com muita paciência e calma, saberemos superá-las. E não exite em pedir ajuda. Para quem quer se seja. É fundamental!

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Vivian Rodrigues Amaral

Fotos: http://rlarroyd.com/nascimento-joaquim/ 


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