Sara – da concepção ao nascimento

Eu e o Willian, meu esposo, engravidamos em julho de 2011, um mês depois da minha então ginecologista dizer que eu estava com ovário micropolicístico e que provavelmente teria que fazer um tratamento para engravidar. Naquela ocasião nós pensávamos em engravidar no início de 2012, mas a dificuldade que então imaginávamos que enfrentaríamos fez com que parássemos de “nos cuidar” imediatamente. Um mês depois a maior surpresa das nossas vidas, dois testes de farmácia e um de laboratório positivos, que alegria! Desde então a chegada do bebê foi muito planejada e esperada por nós, nossos pais (estreando como avós), pelos parentes e amigos mais próximos.

Com sete semanas aconteceu o momento mais triste das nossas vidas, um pequeno sangramento nos fez correr para a maternidade. Era tarde e não havia ultrassom disponível e a médica que nos atendeu me examinou e pediu que eu retornasse no outro dia pela manhã. No dia seguinte o ultrassom mostrou um descolamento do saquinho gestacional. Dos 14 milímetros, nove haviam se desprendido. Foi uma dor e um medo muito grande. Eu só pensava que perderia o meu bebê que eu já amava tanto. Comecei a tomar alguns medicamentos, fui para casa da minha mãe e fiquei uma semana de repouso total, me levantava apenas para ir ao banheiro; até as refeições eu fazia na cama. Graças a Deus e a Nossa Senhora o sacrifício do repouso total valeu a pena. Dez dias depois refizemos o ultrassom e recebemos com alegria a notícia que o saquinho gestacional estava fixado no útero novamente. Mesmo assim continuei sem fazer grandes esforços, sem pegar peso ou fazer exercícios físicos até a liberação médica.

As semanas foram passando e tudo foi transcorrendo de maneira maravilhosa. A barriga não demorou nada para aparecer e com 10 semanas eu já não precisava mais enfrentar filas nos caixas hahaha. Com 12 semanas o ultrassom mostrou que estávamos esperando uma menina, a nossa princesa Sara. Foi uma alegria indescritível, pois sempre sonhei em ter uma bonequinha.

Quando estava com 20 semanas de gestação minha então obstetra sofreu um acidente automobilístico e parou de atender por alguns meses, foi aí que, por indicação de diversas pessoas eu continuei meu pré-natal com o dr. Fernando Pupim Vieira. Já na primeira consulta minha simpatia por ele foi imediata. Lembro-me de ele perguntar o tipo do parto que eu planejava e eu respondi que gostaria de um parto natural e ele disse: “Que bom que não vou gastar meu tempo tentando te convencer disso”. Nesta primeira consulta ele me falou sobre o trabalho da Cris doula, de quem eu já tinha ouvido falar por meio da minha amiga Bruna. Desde então eu pensava em entrar em contato com a Cris para buscar mais informações sobre o seu trabalho, mas como boa brasileira fui deixando para amanhã e não o fiz.

O quarto foi ficando pronto, as roupinhas lavadas e passadas, a bolsa arrumada e o cheirinho de bebê pela casa deixava a mim e ao meu esposo ainda mais ansiosos. Fizemos as fotos para registrar o momento, assistíamos filmes e documentários sobre bebês, comprei livros, li muito na gravidez, inclusive o site da Cris que sempre me fazia chorar com os vídeos e depoimentos.

No meio da gestação mais uma pedra em nosso caminho. Sou servidora da Assembleia Legislativa e em janeiro deste ano o governo do Estado rompeu com a Unimed e passou a gerir o próprio plano de saúde, o SC Saúde. Fiquei muito tensa, pois estava no auge do meu pré-natal e planejava ter a Sara na maternidade Ilha, principalmente pela possibilidade do parto na água. Apenas a maternidade Santa Helena havia aderido ao novo convênio, mas como muitas pessoas me falavam sobre a tradição desta maternidade em fazer cesáreas – o que pra mim era uma opção apenas em caso de extrema necessidade – eu comecei a ficar muito preocupada. O dr. Fernando, porém, me tranquilizou e me falou da possibilidade de chamá-lo para fazer meu parto na Santa Helena. “Patrícia, se eu fizer teu parto podes ter certeza que só farei uma cesárea  se for necessário. Porém, isso provavelmente não vai acontecer pois estás muito saudável e tenho certeza que terás um parto natural maravilhoso”, disse ele. Essa alternativa me deixou mais tranquila e o assunto passou a ser discutido em casa por mim e pelo Willian. Naquela ocasião estávamos decorando o quarto da Sara e comprando todo o enxoval e pagar os honorários do médico não estava em nossos planos. Então decidimos, se eu ficasse insegura em ser atendida por outro profissional na hora que o trabalho de parto começasse o chamaríamos.

Completadas as 37 semanas começou a contagem regressiva. Cada dia que eu acordava sem dores era uma frustração. Eu tive uma gestação maravilhosa, sem azia, sem enjoo, sem indisposição, apenas com um pouco de inchaço e dores lombares que foram sendo atenuadas com caminhadas e hidroginástica. Mas mesmo assim não aguentava mais olhar para as coisinhas da Sara e para o quarto pronto, eu queria a minha princesa comigo. Eu já estava com três centímetros de dilatação e comecei a intensificar os exercícios com esperança de que o trabalho de parto logo começasse. O Willian me acompanhava e me ajudava muito, ele sempre foi um marido maravilhoso, mas no fim da gravidez ficamos ainda mais unidos e parceiros.

O momento mais esperado chegou. Com 38 semanas e cinco dias, no dia 4 de abril às 18h35 a bolsa rompeu e houve uma explosão de sentimentos. Foi um alívio indescritível, uma alegria por saber que a Sara chegaria e um frio na barriga. Eu pensava “agora não tem mais jeito, chegou a hora”. Quando a bolsa rompeu eu e o Willian estávamos na casa de uma amiga, a Isa. Saímos então de lá, fomos para nossa casa, tomamos banho, ajeitamos o resto das coisas que faltavam na mala e partimos para a Santa Helena.

Na maternidade fui avaliada pela médica plantonista. A primeira pergunta que ela me fez foi sobre o tipo de parto que eu gostaria de ter. Quando respondi que havia optado pelo parto natural ela, sem nem ter me examinado ainda, disse que eu não teria condições de fazê-lo já que meu quadril era pequeno. Enchi os olhos de lágrimas e olhei assustada para o meu esposo. Penso que naquela hora deve ter passado pela cabeça dele que eu daria um “chilique”. Ela então me examinou e disse que eu estava com três para quatro centímetros de dilatação e que meu trabalho de parto demoraria a evoluir, que eu sofreria, enfim… Ela tentava me convencer a fazer uma cesárea. Deixei ela falar e preencher meus papeis de internação, quando saímos do consultório liguei para o dr. Fernando e pedi pelo amor de Deus que ele fosse fazer meu parto. Uns 30 minutos depois ele estava na maternidade, me examinou e disse que eu tinha totais condições de ter um parto natural. Ele perguntou se eu havia conversado com a Cris e respondi que não, mas que gostaria de tê-la ali comigo naquele momento. Ele então ligou pra ela, que topou me atender mesmo em cima da hora. Ela estava em outro compromisso e me pediu duas horas para chegar à maternidade.

Nesta altura do campeonato já fazia três horas que minha bolsa havia rompido e eu não sentia nenhuma dor, apenas um bem estar e uma alegria enorme. Minha mãe e minha irmã, meus sogros e os padrinhos da Sara com seus dois bebês estavam na maternidade também. Eu estava tão eufórica que não quis ir para o quarto, preferi ficar com eles na recepção. As pessoas vinham falar comigo e me chamavam de louca por estar com a bolsa rompida e ficar lá fora, rindo, conversando… Mas era tanta alegria que não conseguia me conter e ficar deitada numa cama. O apoio das pessoas queridas foi muito importante para mim.

Mais duas horas se passaram e então resolvi me deitar e em seguida a Cris chegou. Eu não a conhecia pessoalmente apenas acompanhava o seu trabalho pelo site, e ela nunca tinha ouvido falar de mim, mesmo assim a afinidade foi imediata. Como eu não sentia dor, ficamos horas conversando. A Bruna, minha amiga que sempre me incentivou ao parto natural não se conteve e foi com o marido para a maternidade também. Ela e a Cris ficaram me distraindo e dando força. Passaram-se mais umas duas horas e por volta das 3h da manhã eu comecei a sentir as primeiras contrações e eu quase explodi de alegria. Cada dor que eu sentia sabia que a Sara estava mais próxima de mim. A Cris me ajudou com as técnicas de respiração, me pôs na bola de pilates e fez massagens que aliviaram muito as dores. Depois ela me sugeriu um banho e fiquei quase meia hora sentada na bola embaixo do chuveiro. Nessa hora as dores começaram a ficar bem mais intensas, elas não passavam apenas aliviavam e voltavam de novo a cada minuto. Assim que saí do chuveiro ela ligou para o dr. Fernando e ele se deslocou para a maternidade. Ele chegou e eu estava com oito centímetros de dilatação e pedi a analgesia pois eu fiquei com medo de não ter força para fazer a expulsão por causa da dor. Quando a anestesista aplicou a analgesia foi “o céu”, foi como se tivessem tirado a dor com as mãos, eu não sentia mais nada e estava muito aliviada por isso. Em seguida um novo exame de toque e a constatação, dilatação total.

 A sala de parto estava em meia luz e estávamos ouvindo Itapema FM. O ambiente estava muito aconchegante e ficamos eu, o Willian, a Cris e o dr. Fernando conversando até a Sara começar a dar os primeiros sinais de queria finalmente nascer. Como eu não sentia dor a Cris e o dr. Fernando me diziam quando eu deveria fazer força. Fiquei mais de meia hora tentando fazer a expulsão em cima da cama sem sentir absolutamente nada. Tenho que admitir que fazer força sem sentir as contrações não foi muito fácil. Passadas quase uma hora o dr. Fernando verificou que o batimento cardíaco da Sara estava diminuindo; fiquei muito preocupada com ela e frustrada ao mesmo tempo, eu temia ter que fazer uma cesárea, mas faria se fosse o melhor para a Sara. Tive medo que minha princesa estivesse sofrendo e pedi a Nossa Senhora para me dar forças.
Então o dr. Fernando pediu que eu ficasse de pé e verificou que com a mudança de posição o batimento cardíaco do meu anjo tinha voltado ao normal. Então resolvemos tentar o parto de cócoras, algo bem inusitado pra mim que jamais tinha pensado nessa possibilidade. Quando as contrações vinham eu acocorava. Ficamos assim mais ou menos meia hora. A Cris e o dr. Fernando já viam a cabecinha da minha princesa e me avisaram que era bem cabeluda. Voltei a deitar e depois tornei a ficar de pé. O Willian sempre do meu lado, segurando minha mão. Eu não sentia medo nem dor, só uma ansiedade muito grande, uma vontade de enfim conhecer o rostinho da Sara. Foram meses a vendo apenas através do aparelho de ultrassom e eu custava a acreditar que finalmente estaria com ela nos meus braços. Às 6h30 da manhã eu sentei na cadeira de cócoras, o dr. Fernando saiu da sala e voltou com duas enfermeiras. Ele pediu que o Willian ligasse a câmera pois estávamos finalizando o trabalho de parto.

De repente só me veio uma vontade enorme de fazer força… Eu não senti dor, apenas uma pequena ardência. Lembro-me de gemer e da voz Cris dizendo “é a Sara, é a Sara”, e às 6h35 do dia 5 de abril de 2012 o dr. Fernando estava colocando minha pequena nos meus braços. Que emoção! Foi mágico, foi lindo, foi do jeito que sempre sonhamos. Com 3.105 quilos e 47,5 centímetros a minha princesa chegou ao mundo, linda, cabeluda e saudável. Pegá-la no colo assim que nasceu, ouvir o seu chorinho e ver o papai cortar o cordão umbilical marcaram minha vida. Sei que não serei mais a mesma depois dessa experiência. Eu estava tão feliz por saber que ela era saudável e perfeita. Eu estava tão grata pelo meu marido – que sempre teve problemas com sangue – por ter ficado ali comigo firme e forte. Eu estava tão orgulhosa de mim por ter conseguindo. Foi, sem dúvida, o dia mais especial da minha vida inteira.

Meia hora depois a Sara estava comigo na sala de recuperação, mamando. Fomos para o quarto, recebemos as visitas – não ficamos nenhum momento do horário de visitas sem ter alguém conosco no quarto, mostrando que a Sarinha chegou ao mundo amada por muita gente. Eu me sentia maravilhosa, deitava e levantava o tempo todo, dava mamar, fazia a troca de fraldas. Quando a Sara foi tomar o primeiro banho a enfermeira me convidou para assistir e disse que eu teria o privilégio de poucas mães. Perguntei o porquê e ela disse que quem faz cesárea mal consegue se levantar da cama. Quando ouvi isso fiquei ainda mais feliz e percebi que valeu a pena cada dor da contração para poder acompanhar de perto tudo o que fosse relacionado à minha princesa.

No dia seguinte recebemos alta e eu não sentia absolutamente nenhuma dor pelo parto, apenas dores na cabeça, provavelmente por causa da analgesia, mas que desapareceram depois de três dias. Eu, que sempre temi ter problemas para ir ao banheiro após o parto não tive nenhuma dificuldade. Os primeiros dias foram de muito cansaço e pouquíssima dor. Minha mãe e o Willian me ajudavam com as coisas da casa e eu me dediquei exclusivamente à Sara. Eu mesma poder cuidar dela, dar banho, trocar as roupinhas, isso não tem preço. Nunca fui tão feliz!
 Agradeço de coração ao dr. Fernando por ter cumprido a sua promessa de fazer o meu parto o mais humanizado possível. Agradeço também à Cris por ter aceitado nosso convite em cima da hora e por todo o seu apoio, foi fundamental!  Não há dinheiro no mundo que pague um parto dos sonhos como o que eu tive. Por isso, as gestantes que lerem esse depoimento, se tiverem a oportunidade façam o parto com os profissionais da sua confiança e que, de preferência, optem pelo parto natural. Hoje percebo que não existe decoração, berço, roupeiro ou poltrona mais importantes que um parto maravilhoso. Fico triste quando ouço de amigas que tiveram o parto normal que a experiência foi traumática, pois eu sou prova de que um parto natural pode, sim, ser uma experiência maravilhosa. Sei que fiz a melhor escolha para mim e principalmente para a minha princesa. Hoje tenho certeza que cada decisão sobre o parto valeu a pena. Se Deus quiser a Sara ainda vai ganhar mais um ou dois irmãozinhos e no que depender de mim será tudo igual, tudo lindo e tudo natural como eu sempre sonhei e como a natureza manda.


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