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Nosso José Pedro foi descoberto aos poucos. O BetaHcg foi aumentando ao longo de intermináveis 15 dias, depois de 5 exames, até termos nosso positivo de verdade. Depois do susto foi aquela sensação de “será que eu vou conseguir?”. Já dizia pro eu marido: É um menino! Com 12 semanas descobrimos o nosso José Pedro, que já tinha nome e várias roupas azuis.

Gravidez muito tranquila e bebê muito sapeca, daqueles que mexiam como os vídeos que a gente custa a acreditar na internet. Engordei 13 kg, senti poucos enjoos e sofri um pouco com a pressão baixa que me deixava tonta. Desde sempre soube que queria parto normal, apesar de não conhecer a versão humanizada que me encantou semanas depois. Logo começamos a nos informar sobre hospitais, cursos, preparação e doula, que pra mim foi imprescindível. Conheci a Cris através de uma amiga que tinha parido com ela e logo vieram as reuniões pré-parto e as minhas intermináveis dúvidas, que só serviram pra aumentar a certeza da minha escolha.

Tudo correndo as mil maravilhas quando na 35° semana, em um US feito na clínica onde trabalho (sou Veterinária), descobrimos que esse mocinho tinha se virado e estava em posição pélvica, sentadinho. Pronto, já me deu aquele frio na barriga, aquela insegurança. Conversei com a Cris que me orientou e já passou alguns materiais pra eu poder me habituar com a possibilidade. Conversei com o meu bebê durante toda aquela semana, explicando que a mamãe aceitaria a vontade dele, mas ficaria mais feliz se ele virasse de novo. E qual não foi minha surpresa (e alívio) quando no próximo US vimos que o espoleta tinha virado outra vez e estava em posição cefálica. Ufa!

Seguimos tranquilamente até a 40° semana, com poucas contrações esporádicas e leves. Com 40+4 fomos levar alguns exames para a obstetra que estava de plantão no Ilha, quando fui ao banheiro percebi que tinha perdido o tampão. Felicidades mil quando notei que finalmente estava chegando a hora. Naquela noite fomos a uma pizzaria para comemorar, mas já não conseguimos ficar muito tempo. Contrações vinham e voltavam, bem doloridas, me deixando sem posição. No dia seguinte, para minha frustação, aliviaram. No dia que completamos 41 semanas tínhamos que voltar pra reavaliação. Enrolei em casa o máximo que pude, caminhando, rebolando na bola, concentrando e nada. Fomos ao Ilha no início da noite, Dra. Cris Falcão nos avaliou e tínhamos 1 cm de dilatação. Tudo bem comigo e com ele, ela disse que a decisão era minha: podíamos induzir o parto ou reavaliar em 24 horas. Decidimos respeitar a vontade do José Pedro, se ele ainda não queria nascer é por que não estava na hora. Voltamos pra casa pra delírio da família (que já me chamava de doida e teimosa) e agonia do papai que estava doido pra conhecer ele.

Naquela noite as contrações aumentaram (sempre apertavam durante a noite). Deitei, levantei, sentei, caminhei, fui pra bola. Lá pelas 3h da madrugada decidi deitar mais um pouco, pra ver se descansava. Foi só o tempo de encostar a cabeça no travesseiro e levantar correndo até o banheiro. A bolsa rompeu e eu senti como se tivesse feito muito xixi involuntariamente. Era o sinal do meu filho, agora ele queria nascer. Avisei meu marido, que levantou num pulo, tomei um banho bem demorado enquanto ele colocava as coisas no carro e fomos para a maternidade.

Chegando lá ainda era plantão da Dra. Cris, que deu risada quando meu viu de volta. Internados passamos o domingo lá, caminhando, descansando (ou pelo menos tentando) e em contato com a Cris. As contrações aliviaram pela manhã, vinham irregulares e leves. As 20h Dr. Cláudio veio nos avaliar e não havia evoluído nada, nem em dilatação nem em contrações. Eram muitas horas de bolsa rompida e decidimos induzir. Chamamos a Cris e começamos. A ocitocina sintética foi quase instantânea. As contrações vieram fortes, a cada minuto ou menos. Nessa hora a Cris chegou e já foi mudando tudo. Desligou a televisão (realmente o Faustão não estava ajudando muito), apagou algumas luzes, cobriu outras e eu fui para o chuveiro.

A Cris me sugeriu vocalizar, que ajudaria com as dores. Sempre que eu via vídeos e relatos de parto com mulheres gritando ficava pensando que não ia fazer aquilo, que teria vergonha. Mas isso foi só até eu soltar o primeiro grito. Aí já avisei ao marido e a Cris: “Agora que eu descobri que alivia a dor vocês vão ter que me aguentar!” Acho que devo ter acordado a maternidade toda.

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Logo fomos para a sala de parto. Eu, meu marido, Cris, Mi (amiga fotógrafa) e meu José Pedro. E lá fiquei da banheira pro chuveiro, do chuveiro pra bola, da bola pra banheira, batendo papo e dando risada entre as contrações. É outro mundo, outra dimensão. Perdi completamente a noção de tempo e do lugar. A dor é o que menos se sente e meio aquele turbilhão, uma mistura de ansiedade, felicidade, espera. Só fiquei ali, me concentrando nas contrações, pensando que elas estavam trazendo meu menino pros meus braços. Parece coisa de doido, mas hoje, só de pensar, tenho vontade de reviver aquele dia.

As contrações continuavam ritmadas e intensas e ouvíamos o coraçãozinho dele cada vez mais pra baixo. Dr. Cláudio apareceu pra reavaliar e resolveu suspender a ocitocina e dali pra frente meu corpo tomou conta do trabalho de parto, mantendo as contrações. Dói, mas mais do que isso, cansa. A água quente e a vocalização eram o que mais me ajudavam, além do apoio do marido, que me surpreendeu aquela noite.

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Chegou um momento em que a exaustão tomou conta, comecei a chegar ao meu limite, queria ver o médico pra saber como estava, já começava a pensar em desistir. A Cris foi me segurando, dizendo que ele já vinha pra eu relaxar e assim fomos até às 4h, quando Dr. Cláudio chegou. E foi aí que meu mundo desabou. A dilatação não havia evoluído nada e precisaríamos ir pra cesárea.

Chorei com toda a minha vontade desde que tudo tinha começado, vivi o meu luto por não ter conseguido depois de tudo, por saber que meu filho não viria ao mundo pelo meu tão sonhado parto normal. Mas naquela hora tirei força não sei de onde, me agarrei na ideia que agora, era a única forma do meu menino vir ao mundo. Esgotada, eu tinha feito de tudo pra evitar uma cirurgia. Via a preocupação e insegurança nos olhos do meu marido, sentia o medo dentro de mim. Mas a Cris, com aquela paciência, nos fez entender que era a coisa certa a se fazer. As coisas são assim, nem sempre estão sob o nosso controle apesar dos esforços. E foi como Deus quis. José Pedro já veio cheio de vontades e nascer de parto normal, infelizmente, não era uma delas.

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No centro cirúrgico, quando vi aquela carinha com os olhos bem arregalados, os medos sumiram. Independente da forma como nasceu ou da nossa vontade o que importava naquela hora era ver ele ali, perfeito, com saúde. José Pedro nasceu no dia 11/04, as 04:53h, com 3,480kg e 51 cm.

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Durante a cesárea descobrimos que ele estava em apresentação posterior, o que tornava o parto muito mais difícil. Ele mamou logo que nasceu e voltamos para casa dois dias depois. A recuperação da cesárea não foi fácil pra mim assim como a amamentação. Mas hoje olho pra essa carinha sorridente e sinto que fiz tudo que estava ao meu alcance e faria tudo outra vez.

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Só tenho a agradecer a Deus, a minha família, ao meu José Pedro que passou por tudo comigo, ao meu marido que foi minha fortaleza, a Cris que nos amparou e até me deixou apertar o braço dela durante as contrações, a Mi pelas fotos, aos médicos que me acompanharam e a toda equipe do Ilha.

Layse