A gestação e o nascimento do Pedro, meu segundo filho, foram cheios de sustos. Logo no início, no primeiro ultrassom, constataram um descolamento da placenta. Era pequeno, porém exigia cuidados. Parei de fazer exercícios físicos, mas com um filho de 3 anos em casa é impossível fazer muito repouso.

Graças a Deus em pouco tempo tudo se normalizou e levei a gestação de forma tranquila, desencanada, sem me preocupar com o parto, isso até completar 34 semanas e fazer um ultrassom que mostrou o bebê pélvico. E agora? encarar um parto pélvico? eu consigo? Vale a pena para o bebê e pra mim? Decidi que se ele continuasse pélvico faria cesariana por conta das estatísticas que dizem que o bebê nasce melhor de cesariana nesses casos.

Estava desanimada, pois meu primeiro filho nasceu em um parto natural lindo, intenso (com a ajuda da Cris), e o segundo eu iria encarar uma cesariana. Após conversar com o médico ginecologista obstetra que vinha me acompanhando no pré natal, dr Fernando Pupim, sobre as opções para tentar virar o bebê, descartei a manobra de versão cefálica externa por conta dos riscos e optei pela acumpuntura para incentivar o bebê a virar. Com quase 38 semanas de gestação completas, quando já não acreditava mais, ele virou e ficou certinho na posição cefálica… que alegria!! Eu poderia parir novamente! Parir dói, dói muito, é claro, mas também proporciona momentos únicos de conexão com o corpo e com o bebê e eu poderia viver aquilo tudo de novo.

Tudo certo, agora era só esperar o Pedro escolher o dia dele.

Dia 7 de julho de 2017, 40 semanas e dois dias de gestação. Pela manhã tomei o chá da Cris, decidida a incentivar o Pedro a sair da barriga. Fiz um ultrassom às 13h da tarde e o bebê estava bem. A tarde fui trabalhar normalmente, só sai um pouco antes pois já estava indisposta, sem muito pique pro trabalho. Às 19h30, já em casa, fui tomar um banho pra relaxar e pá, começou a escorrer um líquido que não era xixi. Começou saindo pouco e parou. Era esverdeado, o que me deixou confusa (sabia que era a bolsa rota e que tinha mecônio mas não quis admitir por medo na hora). Chamei o Marcos, meu marido, e pedi para ele ligar para a Cris. Nesse momento o líquido amniótico já descia sem parar, mas eu não sentia nada no corpo, nenhuma dor ou contração. A minha mãe, que estava na minha casa, veio dar palpite dizendo que era o tampão.

O meu filho Joaquim, que está com três anos, percebeu a agitação e também veio saber o que estava acontecendo. Pronto, o caos estava formado. Meu filho Joaquim adora brincar de bombeiros e no momento que soube que o mano ia nascer começou a gritar “ emergência, emergência” “a mamãe vai para o hospital”. É o que ele costuma fazer brincando, mas na hora aquilo me deixou ainda mais nervosa. Falei com a Cris e confirmei que era bolsa rota com mecônio. A Cris me perguntou se eu sentia o bebê chutar.. tentei lembrar a última vez que tinha mexido, tentei sentir ele.. nada.. senti foi um medo enorme que o bebê estivesse em sofrimento. Organizei tudo às pressas em casa, pois o marido estava mais nervoso que eu. Expliquei tudo de novo para o Joaquim,me despedi dele, deixei ele com a vó e  corrermos para a maternidade ilha. Às 20 horas cheguei na maternidade. A Cris nos encontraria lá e eu precisava avaliar logo com o médico plantonista se o bebê estava bem, mas ele estava terminando uma cesariana quando cheguei, então fiquei lá super ansiosa esperando a Cris e o médico.

A ideia inicial era fazer o parto com o plantonista, mas a situação era delicada e após conversar com a Cris decidi contatar o Fernando, que me acompanhou durante todo o pré natal dessa gestação e da primeira também. Não tinha acertado o chamado com ele antes, então tive que torcer para ele conseguir me atender. Enquanto esperava o Fernando confirmar se poderia acompanhar enquanto isso o médico plantonista me avaliou. Não senti segurança no atendimento dele mas o exame mostrou que o bebê estava bem. Era 21 horas e nesse momento eu estava com 3 cm de dilatação e ainda não sentia nenhuma contração. Maravilha, agora precisava me mexer para ajudar as contrações a virem.

Comecei então a caminhar pela maternidade com a Cris e assim o parto foi fluindo. Lá pelas 21h30, no meio de uma fofoca e outra durante a caminhada comecei a sentir as contrações, fortes, mas espaçadas. Caminhava, caminhava, quando vinha a dor parava e concentrava na respiração. Estava animada, tranquila sabendo que o bebê estava bem e que tudo evoluia rápido. O Fernando chegou, era 22 horas, fiz a internação e as contrações estavam cada vez mais intensas. Já no quarto tive que deitar na cama para fazer o exame cardiotoco. Essa hora foi difícil, pois deitar de costas e ainda ficar quieta durante as contrações é extremamente desconfortável e dolorido.

Os 25 minutos do exame não passavam nunca, mas o resultado foi bom, o bebê continuava bem, o que me deu confiança e força para seguir tentando o parto normal. Continuei fazendo os exercícios para ajudar na dilatação. O marido chegou com a bola e lá fui eu rebolar (ele teve que voltar em casa enquanto eu fazia o cardiotoco pois estava tão nervoso quando saiu que esqueceu quase metade das coisas) e a dor foi ficando cada vez mais forte, as contrações mais próximas e fui para o chuveiro. Que alívio, fiquei lá na água me remexendo. Nesse momento já não via o que acontecia a minha volta, não via o tempo passar, estava imersa nas intensas sensações do parto, na chamada partolândia. Aceitei a dor e deixei ela fluir pelo meu corpo, era ele que estava no comando nessa hora.

A Cris e o Fernando estavam lá me dando todo apoio e suporte que eu precisava, dois anjos cuidando do Pedro e de mim. O Fernando conferiu a dilatação, 7 cm, ótimo, já podia ir para a sala de parto. Passava das 23 horas. Lá fui eu para o chuveiro da sala de parto continuar a me movimentar, rebolar, agachar, eu fazia o que meu corpo pedia. Combinei com a Cris que só iria para a banheira no final do trabalho de parto, já no expulsivo, pois uma das lembrança do meu primeiro parto é da banheira ter relaxado tanto meu corpo que demorei para conseguir dilatar os 10 cm.

Fiquei no chuveiro rebolando e gritando. A Cris deixou a luz baixa no quarto, colocou umas músicas suaves pra tocar, tudo ajudou e me deu mais força para aguentar as contrações. Senti logo que o Pedro estava vindo quando bateu a vontade de fazer força. Sai do chuveiro para avaliar e estava com dilatação total. Só nesse momento entrei na banheira.

Lembro que após duas contrações e muitos gritos senti o Pedro coroar, o círculo de fogo veio e junto mais uma contração, aí a cabecinha do Pedro passou. Fiquei angustiada, querendo que ele viesse logo, já pedindo para pegarem ele, mas precisava esperar a próxima contração, que veio segundos depois.

Às 23h54, após um expulsivo muito rápido que durou cerca de 5 minutos, estava com ele nos meus braços, mas infelizmente por pouco tempo. O Pedro me deu um novo susto após o parto. Meu cordão umbilical era curto e ficou muito esticado enquanto o Pedro descia, o que pode ter sido ou não o motivo pelo qual ele teve desconforto respiratório e foi preciso cortar logo o cordão.

Nada sério graças a Deus, só que ele ficou no oxigênio e em observação pela pediatra durante uma hora na sala de parto. Eu estava bem, tive uma laceração pequena e levei um pontinho apenas, mas tive que esperar para poder ter meu bebê nos meus braços de novo.

Lá estavam a Cris e o Fernando cuidando de mim, me tranquilizando pois estava tudo bem com o Pedro. Experiência e técnica para acompanhar um parto muitos profissionais têm, mas essa dupla faz isso com muito carinho e cuidado, são seres humanos especiais. Se parir é dar a luz posso dizer que eles deixaram meu parto mais iluminado ainda. Obrigada Fernando, obrigada Cris, obrigada, obrigada, obrigada.

Pouco relatei da participação do meu marido, mas só consegui passar por tudo isso durante o parto porque tinha ele do meu lado me apoiando e respeitando minhas escolhas. Obrigada Marcos, meu parceiro, meu amor!

Elisa