Completei 40 semanas numa terça-feira de troca de lua com direito à eclipse lunar. Eram umas 20h quando olhamos para o céu e vimos aquela lua cheia tomada pela sombra, e eu já sentia as contrações acompanhadas de dores na lombar.  Fui deixar minha irmã na casa da minha mãe, depois de termos comido uma pizza, e nos divertimos com o fato de que o parto poderia engrenar naquela noite.

Ao voltar pra casa, tomei um banho e era por volta de meia-noite quando tentei deitar pra dormir Nesse ponto as dores já eram tão desconfortáveis que nem deitar eu consegui. Voltei pro chuveiro na esperança de que a água quente aliviasse um pouco. Quando as contrações começaram a engrenar, avisei a nossa doula.

Às 04h da madrugada elas já vinham de 3 em 3 minutos, eu decidi chamar ela lá em casa. Prontamente ela veio, comemos alguma coisa até que ela pudesse realmente verificar que estava na hora de irmos pra maternidade. Achávamos (eu, pelo menos) que em alguma horas Joaquim já chegaria… Mas veio muito mais pela frente.

Às 06h saímos de casa em direção à Maternidade Ilha. Não poderíamos demorar muito por causa do trânsito de Floripa que logo começaria a ficar intenso.

Ao chegar lá, fui avaliada pelo médico de plantão e ele viu que eu estava com 3 cm de dilatação, 2 contrações em menos de 5 minutos de avaliação. Decidiu me internar e uns minutos depois subimos pro quarto.

Nesse ponto a doula avisou nossa fotógrafa (@fotonascer ) e logo estávamos as duas, meu marido e eu no quarto, naquilo que se transformou no maior momento de entrega da minha vida até então. Fiquei umas 3 horas seguidas no chuveiro, sentada na bola de pilates. Cheguei a perguntar pra Cris (minha doula) se poderia ficar lá até o expulsivo, ela disse que sim. Era bom, ajudava com a dor, e era quentinho (estava um dia bem frio). Mas quando o médico voltou para me avaliar no quarto, cinco horas depois da minha internação, eu ainda estava com os mesmos 3 cm de dilatação. Joaquim ainda muito alto e colo médio.

Não foi exatamente como um balde de água fria, porque eu sabia que as coisas poderiam ser demoradas, mas naquele momento algo dentro de mim me disse que a sequência seria punk. As contrações, pelo menos, eram ritmadas. “Precisamos fazer spinning babies pra ajudar o Joaquim a descer”, disse a doula. Respirei fundo: beleza, hora dos exercícios! O detalhe é que eles precisavam ser feitos DURANTE as contrações para serem mais efetivos.

E a doula aqui foi fundamental. Ela que conhecia os exercícios, quais eu poderia fazer (como tive picos de pressão alta no final da gestação, alguns eu não poderia fazer), ela teve que vasculhar todas as possibilidades pra gente variar bastante, porque o bebê realmente estava custando a encaixar direitinho.
Nas horas seguintes, continuamos com os exercícios, caminhadas pela maternidade inteira, contrações sem fim cada vez mais dolorosas… eu não conseguia comer, estava vocalizando bastante (ajudava muito), porém nos curtos intervalos entre uma contração e outra tentava sempre rir e conversar.
Às 23h eu já não aguentava a exaustão e a dor. Comecei a pensar que aquilo já havia perdido o propósito, e busquei soluções para aquele momento.

Pedi analgesia, desci pro centro cirúrgico e voltei pro quarto sem dor nenhuma (mesmo conseguindo mexer as pernas). A médica tinha estourado minha bolsa para ajudar a engrenar. Líquido transparente, fiquei aliviada. Éramos, o bebê e eu, constantemente avaliados. Sempre estávamos muito bem, e por isso pudemos seguir tentando o parto normal da forma como fizemos, mesmo ele tendo sido prolongado como foi.

A doula e a fotógrafa foram pra casa comer alguma coisa, e eu consegui dormir por 1:30h. Tomar a analgesia foi a escolha mais acertada pra mim. Dei sorte de o efeito dela durar 2 horas. Pude recuperar a força e ressignificar aquele momento.  Acionei de novo a doula quando as dores voltaram com tudo. Eu já sabia que a dilatação havia aumentado, mas não tinha certeza de quanto tempo mais levaria para o Quim nascer.

Muita coisa eu não lembro, já estava total na partolândia, não conseguia conversar direito, e na minha cabeça já começavam a vir palavras como “força, a contração é uma onda, já vai passar, a natureza sabe como guiar…”. Ao mesmo tempo eu já estava com pena de todo mundo que estava lá, esperando junto comigo, sentindo a intensidade daquele momento junto comigo.

Confesso que por alguns momentos eu achei que não ia aguentar. Achei que ia morrer de exaustão, que ia desmaiar, apagar… mas quanto mais contrações eu passava, mais me aproximava do nosso encontro. Antes do amanhecer de quinta-feira, a médica me avaliou e constatou que eu estava com 8cm de dilatação. Prepararam a sala de parto e eu nem pude acreditar quando finalmente desci a rampa até ela.

E foi só chegar lá que já estava com dilatação total! Sério, eu nem conseguia acreditar que finalmente tinha conseguido. Eu não poderia ir pra banheira, como sonhava (estava com o catéter da analgesia na coluna, não podia molhar), mas fiquei numa posição que gostei durante o trabalho de parto: sentada no banquinho de parto, o David sentado atrás de mim me dando apoio.

A vontade de fazer força veio junto com as contrações, e eu precisei me concentrar pra entender como direcionar ela certinho (não achei fácil fazer a força certa!). Dali pra frente foi muito rápido… porém a médica, ao ouvir o coração dele como vinha fazendo, percebeu que os batimentos dele diminuíram um pouco.

Uma última força e finalmente meu bebê estava em meus braços! 18/07/2019, 07:10h. Que momento, que momento!!! Mas… Acontece que no expulsivo tivemos duas situações: ele nasceu “cansadinho” e também nasceu fazendo cocô! Por causa disso, ele foi rapidamente levado pro berço aquecido para ser aspirado, antes que respirasse o mecônio.

Ficou em observação duas horas para então subirmos de volta pro quarto. Apesar do susto, lá estávamos, papai, bebê e eu, em nosso leito, fizemos um pele à pele bem gostoso e dei o peito pra ele. Apesar do parto intenso, o pós-parto está sendo super tranquilo.

Eu definitivamente não sou a mesma mulher depois do que aconteceu. Nem meu marido. Tudo o que aconteceu foi capaz de mudar nossa alma, ressignificou não só nossas pessoas, mas também nossas vidas.

E, confesso, sinto orgulho da mulher que fui, sinto orgulho de ter conseguido me entregar à intensidade da força que a natureza nos exige, de ter cedido à ela e vivido o propósito. Parir é um encontro de alma com a cria. É sentir a alma se dividir quase que fisicamente para dar lugar à esse novo ser que chega. E com a alma partida, eu nunca me senti mais completa. Ela, então, se refaz e refaz a gente.

Obrigada, filho, por me refazer.