foto do google

foto do google

Essa sempre foi uma das minhas preocupações (e também curiosidade). Como ajudar as mulheres a se prepararem para o parto, prepararem seus períneos, e como evitar que uma laceração aconteça. Já conhecia a massagem perineal que é realizada  na gestação, pela gestante ou companheiro,  (aprenda como fazer aqui), mas queria saber mais sobre como é possível proteger o períneo no expulsivo.

Em 149 partos, vi médicos e parteiras fazendo coisas diferentes para evitar (ou não) uma laceração. Uma obstetra por exemplo, usa compressas com soro fisiológico morno enquanto a cabeça começa a coroar, e quando o parto acontece fora da água. Fui estudar e achei artigos que mostram que isso ajuda a evitar lacerações, diminui a dor no pós-parto e ainda protege contra incontinência urinária. Já vi também massagem no períneo (com óleo) quando o bebê começa a coroar forçando a vagina a abrir. Li também que as posições que aumentam o risco de lacerações são: de cócoras, deitada ou litotomia (com as pernas em estribos, perneiras). E as que reduzem são: de quatro, de lado, e na água.
Mas isso não significa que a mulher deve ser proibida de parir de cócoras por exemplo, ela deve parir na posição que escolher instintivamente, o profissional gostando ou não.

Outra coisa que aumenta o risco de lacerações é uma força dirigida. Ter alguém falando como e quando você deve empurrar atrapalha, pois seu instinto, seu corpo sente como e quando deve fazê-lo. Receber uma mensagem diferente de alguém faz com que a mulher fique confusa. Parir um bebê é muito parecido com ir no banheiro evacuar, a vontade  é a mesma, e você não precisa de ninguém no banheiro te dizendo como empurrar, precisa?

Claro que se a mulher estiver com analgesia por exemplo, pode precisar ser guiada, já que houve uma interferência ainda maior. Com ela, a mulher pode perder totalmente essa sensação que surgiria sozinha.  Algo que eu noto com frequência nos partos é como as mulheres se tocam. Quando a cabeça começa a sair elas colocam a mão, pois sentem arder. E eu as encorajo, assim como na relação sexual podemos sentir desconforto, nos lábios por exemplo, pode sentir no parto. Então é ótimo que a mulher ”ajeite” onde está doendo, e que inclusive apoie a cabeça do bebê com a mão.
A mesma coisa quando o bebê está coroando e a mulher fecha as pernas, instintivamente, não mande ela abrir as pernas. O bebê virá de uma maneira ou de outra, e isso pode diminuir o risco de lacerações.

Como disse uma parteira: ”Dizer a mulher para parar de empurrar, ou apenas pequenos empurrões, a distrai no momento crucial, e sugere que você é o especialista em partos, o que você não é. Ela é quem está com a cabeça do bebê na vagina – deixe que ela faça”.

Ao contrário do que muitas mulheres (maridos tbm) e profissionais pensam, a episiotomia (pique, corte na vagina) não protege a mulher de lacerações. Pelo contrário, ela já é considerada uma laceração de 3º grau, podendo com facilidade evoluir para 4 º grau (envolvendo o esfíncter anal). A episiotomia ainda é realizada por muitos, pois é mais fácil de ser suturada, porém causa mais dor no pós-parto e demora mais tempo para cicatrizar, comparando com uma laceração natural. A única ”desculpa” hoje para que ela seja feita, é quando o bebê precisa nascer rapidamente (batimento cardíaco muito baixo).

Além disso, nem toda laceração deve ser suturada, e isso deve ser também uma decisão da mulher. Lacerações de 1º grau são superficiais e não necessitam sutura. As de 2º grau são as mais comuns, e se não estão sangrando, acabam cicatrizando mais rápido e com menos dor naturalmente, do que quando suturadas.  

Em resumo: Não existem muitas coisas a serem feitas, pelo obstetra ou parteira, durante o parto para proteger o períneo da parturiente. Ao invés disso, devemos todos encorajar as mulheres a confiarem em seus corpos, que foi feito para parir seus bebês, que lacerar no parto é normal (2/3 das mulheres laceram) e que seus corpos vão cicatrizar muito bem depois. 

(Texto escrito por Cristina Melo – após leitura do texto no site ”Midwife Thinking”. Para ler o texto completo e em Inglês clique aqui)

Cris Doula