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Não, elas não moram na roça e precisam viajar horas ou dias de barco, carroça para chegarem em um hospital próximo. Infelizmente para muitas mulheres que vivem no interior do Brasil isso é uma realidade, que envolve descaso, e muita política. O post hoje não é sobre isso. O post é sobre mulheres que vivem em cidades com shoppings, hospitais, maternidades, mas que não podem ter uma coisa simples: O direito de parir, de parir sem violência.

Por isso um número cada vez maior de mulheres  acaba viajando nas últimas semanas de gestação ou até mesmo durante a fase inicial do trabalho de parto, rumo Florianópolis, onde fazem acompanhamento com obstetras que vão respeitar esse direito. A cesárea é uma epidemia nacional, e  fugir de uma cesárea desnecessária está cada vez mais difícil. Em cidades pequenas onde pré-natal é feito com o intuito de interromper a gestação por via cirúrgica, assim que o bebê está a termo, parto normal não é algo negociável. Parto humanizado então é motivo de deboche.

Toda mulher tem o direito de gestar, toda mulher é obrigada a gestar por lei mesmo quando a gestação não é bem vinda. Mas nem toda mulher tem o direito de parir seu filho por via vaginal.

E em muitas cidades onde os partos acontecem, são aqueles cheios de intervenções desnecessárias feitas de rotina em todas as mulheres, como a episiotomia. Partos violentos que traumatizam a mulher de maneira que ela nem queira mais engravidar, muito menos parir. Por causa desses traumas muitas mulheres hoje optam pela cesariana, por MEDO!

E toda semana recebo pelo menos um e-mail de alguma gestante que mora bem longe, pedindo ajuda, conselhos, pois ninguém na sua cidade faz parto normal. Pois nenhum obstetra apoia o parto, pelo contrário, diz que parto normal é anormal e o bom é a cesárea.
E praticamente todo mês eu acompanho uma gestante que não mora em Floripa e que veio de outra cidade (até mesmo estado) para ser acompanhada por uma doula, e ser atendida por um obstetra que apoie sua decisão.

Se você está nessa situação, querendo um parto humanizado e na sua cidade isso não é possível, considere viajar para uma cidade próxima. Não descarte sem antes fazer as contas, pesquisar e se informar. O parto acontece só uma vez, e a equipe pode fazer toda a diferença. Se isso não for possível, faça valer os seus direitos, toda mulher tem o direito de parir.

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Foto do nascimento da Natália, usada na divulgação do filme “O renascimento do parto”

Provavelmente você já viu a foto que postei acima. Mas você não deve saber que a Ana Carolina, cujo parto eu tive a honra de acompanhar,foi uma dessas mulheres que viajou para parir. E ela conta um pouco sobre essa experiência:

”Ana Carolina Pacheco Rossetto – Bom, sempre sonhei em ter um parto humanizado e dentro de todas as alternativas que eu tive seria ter um parto domiciliar só com o meu esposo, ele é médico, mas que estaria fora de cogitação, por insegurança nossa e a outra alternativa seria buscar um ambiente hospitalar que tivesse de requisito o parto humanizado.  E eis que viajei até Floripa para realizar o meu sonho… mesmo pegando fila na via expressa com contrações valeu cada segundo!”

Outra gestante que acompanhei, cujo relato você pode ler aqui, foi a Anelise que veio de Lages/SC em busca de um parto humanizado, e ela conta: ”Moro em Lages/SC, e infelizmente por aqui não encontrei um médico que me passasse a segurança e apoio que eu desejava. Logo veio a decisão: Vou parir em Florianópolis.”

A Gabriela Grando também tem relato no blog, e saiu de São Paulo e conta ”Quando descobrimos a gravidez decidimos ter um parto mais natural possível! Somos de SC mas moramos em SP! Decidimos ter o nosso parto humanizado em Floripa pois encontramos lá as pessoas certas e o lugar certo para nos ajudar a realizar o nosso sonho! Minha mãe mora lá, o que ajudou muito, e meu marido me levou 1 mês antes da data prevista e ficamos no aguardo do nosso bebêzinho!”

Amabile Goedert Campos – “Fui para floripa para ter um parto mais humanizado. Na minha cidade a maioria dos médicos são cesaristas. Para fugir da cesaria, fui atrás de um obstetra a favor do parto natural, busquei auxílio com uma doula maravilhosa e um
Hospital capacitado (instalações e equipe). Foram vários deslocamentos de 45km (casa-floripa) ao longo de toda a gestacao, confesso que muitas vezes foi cansativo, mas ter o parto que almejava não tem preço!”

A Thayse , leia o relato aqui, saiu de Imbituba e me contou: ”Em momento algum eu senti medo! Assim como foi feito, ao menor sinal de TP eu entraria em contato contigo! As primeiras contrações vieram à meia noite, conversamos com vc, arrumamos o que faltava e tocamos pra Floripa, um pouco antes da hora, mas queriamos evitar o trânsito. Estava amanhecendo quando chegamos na casa da minha sogra, onde ficamos mais umas boas horas esperando a hora certa de ir pra maternidade! Tudo muito sossegado. Quanto a escolha de parir em Floripa, era o mais sensato a ser feito, era o unico lugar onde eu conseguiria um parto hospitalar realmente humanizado!”

Meiry Machado – “Buscávamos por um parto humanizado, acompanhado por profissionais qualificados e também adeptos a essa idéia. Infelizmente a cidade aonde moramos, Imbituba cerca de 90km de Florianópolis, não possui tais recursos. Logo, me deslocar durante toda a gestação para ter o acompanhamento em Floripa e enfrentar o trânsito da via expressa, br101, em uma segunda-feira em trabalho de parto ativo, foi muito pequeno se comparável com a felicidade e segurança de parir sem nenhuma intervenção desnecessária.”

Luciele Frazão de Souza  – “Nesta segunda gestação já vinha com um peso nos ombros muito grande da cesárea anterior, me preparava para mais uma futura e triste experiência (outra cesárea) quando me deparei com a possibilidade de fazer tudo diferente! Descobri o parto humanizado emergulhei profundamente na idéia, vi ali a oportunidade de renascer! Mostrei aquele mundo Lindo ao marido e falei para ele quão importante seria viver esta experiência. Foi ai que começamos a longa caminhada em busca do sonhado parto! Vimos que seria impossível conseguir isto em Pato Branco-PR onde residimos, aqui parto normal é só para quem não tem dinheiro para pagar uma cesariana, ou seja, cheio de intervenções e não era isso que buscávamos. Além de que, ninguém se arriscaria a fazer um parto após cesárea! 
Viajamos 750 km parar PARIR! E foi a melhor das experiências já vividas! Faríamos tudo novamente! Família unida, alma lavada e filho saudável nascido na sua hora e da forma mais respeitosa!”

Não desista do seu parto!!!!

Uma boa hora a todas.

Cris Doula